Irmã Dorothy Stang: 12 anos de saudades

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(Agência Brasil)

CONIC/ALC-O 12 de fevereiro, celebramos 12 anos do martírio da Ir Doroty. Irmã Dorothy Stang foi assassinada, com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, às sete horas e trinta minutos da manhã, em uma estrada de terra de difícil acesso, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Estado do Pará, Brasil.

Segundo uma testemunha, antes de receber os disparos que lhe ceifaram a vida, ao ser indagada se estava armada, Ir. Dorothy afirmou «eis a minha arma!» e mostrou a Bíblia. Leu ainda alguns versículos das bem aventuranças para aquele que logo em seguida lhe balearia.

No cenário dos conflitos agrários no Brasil, seu nome associa-se aos de tantos outros homens, mulheres e crianças que morreram e ainda morrem sem ter seus direitos respeitados.

O corpo da missionária está enterrado em Anapu, Pará, Brasil, onde recebeu e recebe as homenagens de tantos que nela reconhecem as virtudes heroicas da matrona cristã.

O fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do crime, havia sido condenado em um primeiro julgamento a 30 anos de prisão. Num segundo julgamento, contudo, foi absolvido. Após um terceiro julgamento, foi novamente condenado pelo júri popular a 30 anos de prisão.

Onde Dorothy morreu, homicídio por terra é registrado como comum

A repercussão do assassinato da missionária americana Dorothy Mae Stang, em Anapu (PA), em 2005, tornou-se uma barreira ao avanço de madeireiros no rumo do oeste da Amazônia. O crime organizado continua, no entanto, matando defensores da floresta. Para camuflar os homicídios, pistoleiros executam vítimas em ruas e bares de pequenas cidades da região.

Colega de Dorothy, a também missionária americana Jane Dwyer aponta sete mortes por conflito de terra e madeira ocorridas em Anapu no ano passado. Ela rejeita a versão da Polícia Civil, que investiga apenas uma morte no período causada por disputa no campo. “Eles inventam. Matar na cidade é estratégico. Dizem que é por causa de mulher, bebida, vingança. Não é. É por terra.”

No Brasil desde 1972, Jane trava uma batalha para mostrar que o assassinato de Dorothy não foi um divisor de águas na história dos conflitos de terra em Anapu, como diz a polícia. Para Jane, o tempo de assassinatos por terra não passou. Ela diz que o mesmo grupo de grileiros que matou a colega de congregação está por trás de execuções recentes, longe das terras em disputa para descaracterizar o crime.

No caso de Dorothy, os mandantes do crime, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, foram condenados a 30 anos de prisão. Bida está preso. Taradão recorre em liberdade. Amair Feijoli Cunha, o Tato, intermediário que contratou pistoleiros, pegou 18 anos. Rayfran das Neves Sales, que atirou na missionária, foi condenado a 27. Ele passou a cumprir a pena em prisão domiciliar, envolveu-se em outro crime de morte e voltou para a cadeia. Outro pistoleiro, Clodoaldo Carlos Batista, pegou 18 anos e está foragido.

A história de Bida é emblemática. Ele passou por quatro julgamentos. Em 2013, os ministros da 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Teori Zavaski e Ricardo Lewandowski decidiram anular um dos julgamentos diante do argumento de que, no terceiro júri, o defensor público nomeado pelo presidente da 2.ª Vara do Tribunal do Júri, em Belém, não teve tempo de preparar a peça. Ministros Celso de Melo e Cármen Lúcia votaram pela manutenção da pena.

A decisão do STF que mais chocou ativistas ocorreu em 2012. O ministro Marco Aurélio Melo deu liminar garantindo a Taradão liberdade enquanto aguarda julgamento. Ativistas acusam Taradão de comandar a nova onda de assassinatos. Ele estaria por trás de seis mortes de pessoas ligadas à demarcação do Lote 83, mais conhecido por Fazenda do Taradão. Os mortos são: Edinaldo Alves Moreira, Jesusmar Batista de Farias, Cosmo Pereira de Castro, Hércules Santos de Souza, José Nunes da Cruz Silva e Cláudio Bezerra da Costa.

Isolamento

Enquanto a floresta cai, o tempo de barbárie e pobreza em Anapu permanece. É um lugar isolado. Em fevereiro e março, no inverno amazônico, a estrada entre a cidade de Dorothy e Eldorado do Carajás, outro município marcado por uma emblemática tragédia no campo, fica quase intrafegável. A partir de Marabá, a Transamazônica não tem asfalto. Na altura de Novo Repartimento, se transforma num lamaçal.

A política de cerco à floresta segue inalterada desde que tratores abriram os primeiros trechos da rodovia, no tempo da ditadura. A Transamazônica cortou os açaizais dos índios paracanãs, que hoje enfrentam grileiros. A margem esquerda da estrada, em Pacajá, que o governo reservou aos índios, é de mata densa. A da direita está devastada, com rebanhos de animais esquálidos e de baixo porte.

Anapu, com 22 mil moradores, está nas duas margens da Transamazônica, na altura em que a rodovia alcança o rio que batiza o lugar. O nome de Dorothy está numa biblioteca de madeira mantida pela Igreja, no túmulo na beira do Anapu, num sítio próximo ao centro urbano e na luta das missionárias que a acompanharam por 40 anos.

Com informações do IHU Unisinos / Estadão

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