CONIC: chamado ecumênico em defesa da Água

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(CMI)

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), dando continuidade aos compromissos assumidos em defesa da água, desde 2005, com o documento “Declaração Ecumênica da Água como Direito Humano e Bem Público, que foram reafirmados na IV Campanha da Fraternidade Ecumênica “Casa Comum: nossa responsabilidade” e na XVII Assembleia Geral do Conselho, realizada em agosto de 2017, em Brasília, convida Igrejas e tradições de fé a participarem do processo de construção do FÓRUM ALTERNATIVO MUNDAL DA ÁGUA (FAMA), a ser realizado em Brasília, entre 18 e 22 de março de 2018.
O FAMA está sendo mobilizado por organizações representativas da sociedade civil como contraponto ao Fórum Mundial da Água e ao Conselho Mundial da Água, ambos organizados pelas grandes empresas mundiais interessadas e envolvidas com a privatização dos mananciais e dos serviços de água e esgoto. O Fórum Mundial da Água será uma grande feira de negócios orientados para a mercantilização da água e dos serviços de saneamento.
No Brasil, os rios estão morrendo. Lembramos o Rio São Francisco, o Rio Doce, o rio Tocantins e o rio Araguaia. Também nossas águas estão contaminadas com agrotóxicos. No Brasil, é permitido 500 microgramas de glifosato por litro de água, o que representa 5 mil vezes mais que em países da União Europeia que permitem 0,1 micrograma por litro. Estamos bebendo água contaminada.
Em muitos outros países do mundo, inúmeros outros rios, córregos e nascentes atingidos pela mineração, pela monocultura, assoreamento, poluição por agrotóxico, já não existem mais. Dados da ONU de julho de 2017 indicam que 2,1 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável em casa. O desafio é que assumamos uma outra cultura que reconheça o bem viver, a natureza e toda a sua diversidade como ser vivo, portador de direitos.
Como igrejas e tradições de fé, temos o compromisso de preservar a natureza. Deus nos deu esta tarefa. A natureza é um ser vivo e, como tal, precisa ser respeitada e não agredida. Todas as pessoas, sejam elas ricas ou pobres, dependem da água para viver. A Ruach, sopro divino que nos impulsiona para agirmos, nos desafia a superar a ideia de que somente o desenvolvimento orientado em lucro e exploração ambiental é viável. Precisamos sair da letargia para assumir, com urgência, nossa tarefa de enfrentar a falta e a escassez de água e mudar radicalmente a forma como lidamos com o bem comum.
A crise hídrica não é uma fatalidade. Ela é resultado das nossas opções. Destruímos a criação de Deus. Essa destruição é pecado, porque violenta algo sagrado, que é a natureza.
Nosso país é uma demonstração escandalosa do descuido e da agressão aos biomas, que são os jardins doados por Deus para nós. Os biomas são complexos sistemas de geração de umidade. Nesse sistema, as matas e florestas são indispensáveis, porque são fontes vivas de água e de chuvas. A floresta Amazônica, por exemplo, é muito mais do que um longo território com matas. A Amazônia é fundamental para a formação de rios aéreos na forma gasosa. Estes rios precisam se deslocar com os ventos. Sem isso, eles secam e, aí, aprofunda-se a seca no Centro-Oeste e no Sudeste do país. O mesmo ocorre com o Cerrado, que precisa de tempo com chuvas intensas e de uma cobertura vegetal, de solo e do subsolo para armazenar as águas. O Cerrado é uma grande caixa d’água. A destruição dos biomas significará mais escassez de água.
Esses sinais dos tempos exigem que acolhamos a convocação do Deus da criação que pede nosso compromisso urgente em defesa da “Água Nossa de cada dia”. Vamos chamar outras pessoas, de diferentes igrejas, de diferentes tradições de fé e pessoas de boa vontade para que dediquemos o tempo do Advento deste ano a duas iniciativas, absolutamente interligadas:
1) orar, em nossas celebrações, para que Deus nos ilumine e ajude com sua graça a agir em defesa da água para os seres humanos, para todos os demais seres vivos e para a mãe Terra; 2) cada comunidade identificará uma nascente, um córrego, um rio, um lago… que está morrendo e o assumirá de forma permanente até que sua vida seja recuperada, realizando o que for necessário para que isso aconteça.
A multiplicação de práticas de cuidado amoroso com a água em todas as regiões do país é a nossa profecia. Uma profecia que desafia quem agride os jardins a tomarem consciência de seus crimes e a mudarem de vida. É necessário libertar-se da lógica gananciosa da riqueza a qualquer custo.
É tarefa do Estado garantir políticas públicas que possibilitem a gestão democratizada da água, incluindo as nascentes e mananciais, pois a água é um bem público e direito humano, pertencente a todos os seres vivos. Além disso, precisamos exigir que os governantes desenvolvam as políticas públicas que garantam a preservação das às florestas e dos cerrados.
A água não pode ser privatizada! Água é vida, não mercadoria.
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