Declaração de Compromisso Side by Side”

 

Nós, mulheres e homens, íideres e representantes de diversas organizações baseadas na fé e de centros de educação teológica, envolvidas e envolvidos em ações para o empoderamentos das mulheres e a justiça de gênero atendemos à convocação para o Simpósio Latinoamericano e Caribenho do “Side by Side” (Movimento global de organizações e líderes de fé para a justiça de gênero). Somos de diferentes países:  Bolívia, Brasil, Chile, Colombia, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, República Dominicana e Uruguai, expressões de fé e contamos com convidados da Escócia e Inglaterra. Na cidade de São Paulo, Brasil, durante os dias 26 a 28 de outubro de 2015 refletimos sobre os desafios atuais de nosso continente e avaliamos o papel e o potencial transformador das organizações baseadas na fé e suas lideranças para que a justiça de gênero seja plena.

 

Desde nossos lugares de atuação, constatamos que a nossa região é a “mais desigual do mundo, contando com mais de 167 milhões de pessoas vivendo na pobreza e aproximadamente 66 milhões vivendo na extrema pobreza” (Consenso  de Habana/CLAI, 2013/Cepal). A desigualdade de gênero é parte central dessa dinâmica, basta obervar que a maioria entre os mais pobres são mulheres, camponesas, indígenas e afrodescendentes. Muitas destas experimentam, no cotidiano, desenraizamentos internos forçados, efeitos da militarização e do armamentismo, migrações, sobrecarga do trabalho doméstico, salários menores pelas mesmas funções, agravado pelo silêncio e submissão aos padrões de poder da sociedade e de instituições religiosas. São parte dessa desigualdade, a gravidez precoce e indesejada, o trabalho infantil, a violência sexual, psicológica física e patrimonial. Essas situações são provas inequívocas de que as mulheres não desfrutam de autonomia financeira, pessoal e que não são consideradas nas tomadas de decisões. A opressão, o racismo e a discriminação vividas hoje pelas mulheres constituem-se em um escândalo para a nossa região.

 

Reconhecemos que em nosso continente as organizações baseadas na fé tem realizado diversos esforços, traduzidos em atos proféticos de denúncia e anúncio, para a superação da opressão vivida pelas mulheres e pela equidade de gênero. No entanto,  também reconhecemos que há situações em que instituições religiosas fortalecem valores que mantem as mulheres em situação de submissão, sendo cúmplices de sistemas patriarcais. Tal situação exige autocrítica e impõe a tarefa de reafirmar o papel transformador das organizações baseadas na fé ao promover valores como equidade, inclusão e solidariedade.

 

Nossa reflexão sobre justiça de gênero teve início com uma meditação ecumênica e interreligiosa  a partir da imagem e dos impactos que as mudanças climáticas provocam em uma árvore. Esta, quando submetida aos caprichos das estações, se renova,  apesar de tudo. Para o cristianismo, esse simbolismo lembra a ressurreição. Para outras tradições de fé, através de seus cultos ancestrais, a árvore simboliza a força da vida. Essa força nos engaja cotidianamente em ações que fazem florescer seus ramos e fortalecer suas raízes. Motivadas e motivados pelo desejo comum  de ver florescer, sob o alicerce da justiça, da dignidade e do amor, uma América Latina e Caribe onde caibam todas as expressões da sexualidade humana, que decidimos continuar caminhando em unidade.

 

Valorizamos as reflexões de mulheres e homens  da Europa como um testemunho de fortalecimento das redes sororais – fraternais na tarefa comum. Agradecemos à Christian Aid pela iniciativa e a organização deste encontro. Também nos interpelam outras vozes como a do Conselho das Igrejas Cristãs do Zimbabwe que, na sua declaração de julho de 2015, afirma: “Nós trabalharemos para superar todo ensino, crença e ações que causem ás mulheres e às meninas um tratamento não respeitoso e que ofereçam menores oportunidades comparadas com os homens e os meninos”.

 

Por isto, nós da América Latina e Caribe nos comprometemos a:

 

  1. Motivar o compromisso cada vez mais forte das organizações e liderancas de fé para a justiça de gênero, considerando seu potencial transformador na região.
  2. Continuar trabalhando inclusiva e interreligiosamente para que todos os esforços unitários caminhem na direção da justiça de gênero.
  3. Contribuir para o movimento global, afirmando a unidade entre os continentes e a especificidade de cada um, incorporando ativamente as nossas vozes e experiências.
  4. Potencializar as experiências de justiça de gênero, compartilhando suas boas práticas, desafios, iniciativas, alianças e recursos.
  5. Trabalhar em rede para concretizar, em ações conjuntas, a promoção dos direitos das mulheres e a denúncia sobre asvomissões de nossos governos e as ameaças atuais aos seus direitos historicamente adquiridos.

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