Igreja Presbiteriana Unida critica excessos da operação Lava Jato

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PRONUNCIAMENTO DO CONSELHO COORDENADOR DA IGREJA PRESBITERIANA UNIDA DO BRASIL
SOBRE O MOMENTO POLÍTICO DO BRASIL E AS AÇÕES DA OPERAÇÃO LAVA JATO
O Conselho Coordenador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – CC-IPU, tendo em vista o agravamento da crise política do país cujo ápice se deu com as recentes ações realizadas pela Operação Lava Jato, responsável pela investigação de políticos e empresários supostamente envolvidos em prática de crimes de corrupção, dirige-se aos presbitérios e igrejas a ela jurisdicionados e à sociedade brasileira em geral, em especial à classe política e aos operadores da justiça (Judiciário, Polícia Federal, OAB e Ministério Público) e faz o seguinte

PRONUNCIAMENTO:

1 – A IPU, igreja herdeira da Reforma Protestante, sempre pautará sua conduta pelos padrões de ética e justiça bíblicos e defende que a sociedade brasileira – sejam cristãos, seguidores de tradições religiosas não cristãs e os sem religião – tenha direito a viver em um país sob o império do estado de Direito, da justiça e da ética, sem distinção de classes, credos, raças ou qualquer outro padrão social convencionado;

2 – A IPU, igreja fundada em 1978, período obscuro da recente história brasileira, oriunda de um presbiterianismo que, de um lado, se aliou à ditadura militar e abraçou o estado autoritário, para dele também tirar proveito, negando o Pronunciamento Social da Igreja Presbiteriana de 1962, mas que, de outro lado, ofereceu mártires em defesa da causa dos pobres e das liberdades políticas, sempre será fiel às suas raízes e fará ecoar a voz profética da Justiça que deve correr como os ribeiros (Amós 5.24);

3 – A IPU defende o aprofundamento das investigações da Operação Lava Jato, que elas sejam simétricas, sem privilegiar ou discriminar quaisquer partidos políticos, buscando-se o alcance da justiça, aplicando-a a quem quer que seja (doa a quem doer), leve o tempo que levar, sempre sob os auspícios do estado de Direito, da lei e da serenidade que devem pautar os agentes públicos, em especial os operadores da justiça;

4 – A IPU condena, veementemente, o caráter midiático e teatral que os coordenadores da chamada Força Tarefa da Lava Jato têm dado antes, durante e após o cumprimento de cada fase da Lava Jato. Essa espetacularização de atividades meramente investigativas tem criado um caldo de cultura pernicioso, permeado pelo ódio ao que pensa diferente e que, caso não haja cautela da parte daqueles que conduzem tais investigações e da elite política deste país, poderá se degenerar e transformar nossas ruas em palcos de banhos de sangue;

5 – A IPU condena o vazamento seletivo de trechos de depoimentos, sejam de acusados, investigados ou delatores, sempre dirigidos, previamente, a alguns órgãos de comunicação que entregam um produto de conteúdo nem sempre imparcial e justo;

6 – A IPU coloca sob suspeição e alerta os membros de suas igrejas a verem com espírito crítico e com ceticismo conteúdos de delações premiadas que passam a ser tomados como sentenças condenatórias de agentes públicos, sem que tenha havido o devido processo penal, a produção de provas e o direito ao contraditório dos acusados;

7 – A IPU alerta que os delatores da Operação Lava Jato são os mesmos que, na surdina e nos arranjos inescrupulosos deste e de governos de épocas anteriores, se locupletaram às custas do país e não tiveram escrúpulos e, mais uma vez, como os ratos que abandonam o navio prestes a submergir, buscam salvar a sua própria pele;

8 – A IPU, com base no Pronunciamento das Igrejas Históricas contra a corrupção, por ela e por outras igrejas assinado e publicado em setembro de 2014, reitera que a corrupção que grassa em nosso pais vem de longa data e é filha de um sistema político mal articulado que sempre se pautou pela busca de financiamento privado de campanhas, transformando o Congresso Nacional em verdadeiro representante do poder econômico e não do povo, sendo que cerca de 70% de seus membros são representantes diretos de grandes grupos econômicos e financeiros, nacionais e estrangeiros, sediados no país;

9 – A IPU reitera que a verdadeira Justiça provém de Deus e que toda justiça humana é incompleta e imperfeita, mas deve ser permanentemente buscada, no entanto, não deve ser almejada a qualquer preço. Justiça a qualquer preço é justiçamento e, como tal, não há nenhuma diferença entre levar qualquer investigado preso, mediante condução coercitiva, sem a devida intimação judicial prévia, quanto linchar um pobre jovem negro transgressor e amarrá-lo em um poste, em praça pública, buscando fazer “justiça com as próprias mãos”;

10 – Como bem supremo, a justiça deve ser buscada, mas a IPU alerta o povo de Deus que nela se reúne: fuja da justiça dos hipócritas escribas e fariseus dos dias atuais (Mateus 5.20). Muitos desses são políticos que respondem a processos criminais e igualmente estão sob suspeição por práticas delituosas. Para buscar a justiça, desconfiem daqueles que, em nome dela, defendem a pena de morte, a redução da maioridade penal, a volta da ditadura militar e desrespeitam o direito das minorias, em especial negros, índios, homossexuais e adeptos de religiões não cristãs ou sem religião;

A IPU conclama o povo de Deus que nela se reúne para se colocar, permanentemente, em oração pela nossa pátria. Que ela seja, verdadeiramente, pátria de todos e de todas, onde o direito e a justiça corram como rio perene.

Vitória, 8 de março de 2016.

Presb. Wertson Brasil de Souza
Moderador do CC-IPU

Presb. Elson Rubens dos Santos
Vice-Moderador do CC-IPU

Presb. Sérgio Augusto Miranda
1º Secretário do CC-IPU

Presb. Wilson Tadeu de Carvalho Eccard
2º Secretário do CC-IPU

Presb. Davi Freitas Natal
Tesoureiro

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