Revda Lídia Maria de Lima-
Desde que o feriado de 20 de novembro foi instituído, ouço a mesma questão nas ruas e nas igrejas: “Não precisamos de um dia de consciência negra, precisamos de uma consciência humana!” – Sempre me sinto provocada a responder tal afirmação, e acho pertinente que rememoremos o que a data significa: instituído em 2003, o feriado rememora a luta por libertação dos povos negros escravizados neste país, por quase 400 anos. A escolha da data é uma homenagem a Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, símbolo de luta e resistência.
Mas, a luta da população negra por dignidade, liberdade e justiça, não está presa ao passado e não foi superada com as conquistas e com o discurso de que “aos olhos de Deus, somos todos iguais”. A sociedade está aí para nos lembrar o tempo todo que “não somos tão iguais assim”. A população negra ainda é vítima desta herança escravocrata, basta observarmos os números: as mulheres negras, pobres e jovens, são as maiores vítimas de violência doméstica; no ano de 2013, por exemplo, 64% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras. E os nossos jovens? Há um genocídio da nossa juventude e, isto se vê todos os dias nos noticiários: segundo dados do Senado Federal, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado, no total, são 23.100 jovens negros mortos ao ano.
E porque não criamos um “dia da consciência humana?” – Porque ele já existe e está em vigor nos 365 dias do ano e permite que a gente ignore os dados citados acima. Ele existe e faz com que a gente se sinta indiferente a dor do outro e não perceba que este sofrimento, é nosso também. Porque ele já existe, e não me faz perceber que o preconceito se revela na piada, na risada, nos apelidos, no medo que me faz mudar de calçada, quando encontro garotos negros. E está na velha mania de crer de que a nossa alma, não tem cor, ou que ela é “branca”, como se costuma “pintar” por aí. Lembro-me de ouvir, certa vez, um irmão da igreja dizer: “Você se lembra daquela irmãzinha de cor, que se sentava lá no fundo da igreja?
Que pessoa boa! Era uma negra de alma branca!” – Fiquei irritada, principalmente, porque sei que ele não é o único que pensa assim, por isso, aproveito o ensejo e respondo a ele e a quem mais precisa ouvir: “Não meu irmão! Ela era negra e de alma negra, porque a nossa alma é também a nossa carne; é nessa alma que fica registrado os preconceitos da vida; é esta alma que carrega as lutas e as conquistas de um povo que segue adiante, crendo no Deus da justiça e da libertação”.
Feliz dia da Consciência Negra!
E, por onde anda a sua consciência?
Autora é Coordenadora do Ministério AA-Afro e colaboradora da Assessoria para Promoção dos Direitos Humanos Metodista 3RE