Euler Pereira: “A educação evangélica oferece respostas que a educação secular estão longe de poder oferecer”

Euler Pereira Bahia

Euler Pereira Bahia- 1º Vice-Presidente da ABIEE

Informamos no momento que um importante grupo de universidades protestantes e evangélicas na América Latina e no Caribe formou uma Plataforma que contém o nome Quichua “Qonakuy”, que significa “conhecer o outro, compartilhar o melhor de si mesmo”. Entre os signatários da Plataforma está a ABIEE- A Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas. Entrevistamos a Euler Pereira Bahia, 1º Vice-Presidente da ABIEE – Reitor do Centro Universitário-UNASP – São Paulo/SP

Apresente aos nossos leitores a Associação  de instituições educacionais que representa

A Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas- ABIEE , é um órgão  que congrega entidades representativas de instituições de ensino vinculadas às denominações evangélicas e mantenedoras de instituições reconhecidamente evangélicas , de natureza confessional  e sem fins de lucro. Ou seja, a ABIEE é um órgão que congrega entidades representativas,  e não diretamente , as instituições. Poder-se ia dizer que é uma associação de associações.

A Associação está organizada, juridicamente, como entidade de direito privado , e foi fundada no ano de 2001  ,na ocasião pelas entidades representantes das redes educativas, adventista, batista, luterana, metodista e presbiteriana. Sua sede está localizada na Capital Federal do Brasil, ou seja em Brasília.

A ABIEE exerce, desde então, um papel importante no fortalecimento da natureza confessional de suas associadas promovendo a defesa dos seus interesses das  junto a quaisquer órgãos dos poderes constituídos e também junto ao setor privado.

Constituem objetivos e finalidades da ABIEE, entre outros: – o fomento do relacionamento com outras instituições com o intuito de contribuir para o desenvolvimento da educação nacional;

– estimular inovações no campo pedagógico e na realização de  produção acadêmica qualificada ;

-apoiar a capacitação e o aperfeiçoamento docente e técnico dos profissionais dos quadros das associadas através de fóruns, congressos , encontros e outros eventos de natureza semelhante, sempre na busca da defesa do fortalecimento de sua identidade confessional evangélica.

-estimular a cooperação e o intercâmbio entre as associadas nas áreas culturais e acadêmico-administrativas;

– colaborar com as associadas na promoção do ensino religioso nas escolas evangélicas;

– estimular e promover a defesa do patrimônio histórico e artístico nacional , bem como a defesa e preservação do meio ambiente , com vistas ao progresso , mas de modo sustentável .

-manter contatos com autoridades da área de educação e promover o intercâmbio com educadores dentro e fora do país.

A lista acima poderia se estender , mas dá uma Ideia da dimensão dos campos de atuação em que a associação tem atuado , sempre com o objetivo de fortalecer a rede de associadas nesates campos.

– Por que pensar uma união de universidades?

A ABIEE entende  que sua atuação não se restringe ao âmbito universitário, mas, e de modo especial na educação de nível básico também. Haja visto a forma como a Associação está organizada administrativamente. Com efeito, no campo administrativo da Associação há uma Vice Presidência que se ocupa , prioritariamente, da Educação Básica e sob a qual opera uma Câmara de Educadores Evangélicos especialistas neste segmento   e outra Vice Presidência para a área da Educação Superior, que também coordena uma Câmara de Especialistas no nível superior.

Desta forma, não atuamos apenas em defesa do segmento universitário, mas da educação confessional evangélica como um todo no Brasil

Acredito que uma das grandes virtudes da ABIEE é a de que, com o passar dos anos, ela se tornou um Órgão de grande visibilidade nacional, e altamente respeitada nos espaços públicos e privados, com legitimidade para representar os interesses das associadas.  E isso tem se dado , graças à  sua coerência interna e externa. Dessa forma , a ABIEE é hoje uma entidade que participa ativamente da vida nacional promovendo os altos ideais da educação confessional evangélica e fortalecendo suas instituições como resultado de sua atuação continua e presente em todos os momentos que se justifica sua mobilização direta ou indireta.

-Como você vê a paisagem educacional no continente?

De maneira geral, é possível afirmar que a Educação em nosso continente, não recebeu  o grau de atenção que deveria ter sido dado através de sua história.

Os processos de colonização não se deram de modo a criar uma mentalidade de que a educação seria o elemento mais importante para o futuro dos povos dos diversos países. Por essa razão, não dá pra se afirmar que  em nenhum dos países do continente a educação seja motivo de orgulho nacional, ainda que, alguns tenham avançado um pouco mais do que outros.

De algum modo há muitas similaridades no trato e por consequência, nos modelos de educação dos países do continente. O setor privado atuando fortemente na expansão de seus negócios, e a educação pública sem definir com clareza qual é o seu verdadeiro papel já que tem se convertido em instrumento de políticas públicas mais voltadas para projetos ideológicos que de educação pública de qualidade.

Se por um lado esse viés tem efeitos trágicos para a educação como um todo, de outro lado, este  tem sido também a oportunidade de sistemas de educação oferecerem sua contribuição para a educação nacional, os quais , sempre que facilitados pela legislação, são que o que ainda existe de melhor, na maioria dos casos.

Os níveis de exigência definidos pelos respectivos países  para o setor não público também tem sido cada vez mais parecidos. O que sinaliza , a depender da criatividade de cada povo e dos recursos disponíveis, o desejo dos governos de uma educação cada vez mais parecida.

– Qual o papel que as instituições educacionais evangélicas desempenham neste momento?

Vejo que, neste cenário, há uma grande oportunidade pra a educação evangélica de qualidade. Já que a proposta evangélica se ampara na visão bíblica do homem e oferece a estes estudantes respostas que, a educação secular  pública e mesmo a  privada, estão longe de poder oferecer.

É por esta razão que a ABIEE encarece tanto o valor do fortalecimento da educação confessional de suas associadas. E o que temos percebido é que, pelo menos no Brasil, este tem sido um fato comum às instituições representadas pela ABIEE: a busca de fortalecimento de sua identidade confessional.

Numa época em que se exige cada vez mais transparência como fator de credibilidade, instituições que não expressam com clareza a razão  de sua existência e o propósito de se apresentarem no cenário educativo, tendem a serem confundidas como oportunistas e, meramente, mercantilistas. Definitivamente não é esta a marca que se deseja ver associada a uma instituição que tem a tradição e o  nome de sua confissão estampada na sua imagem, no caso das confessionais stricto sensu, ou seja mantidas por uma confissão evangélica,  e igualmente nas instituições  evangélicas cuja mantenedora é uma associação de entidades evangélicas.

-Como você praticamente visualiza a aplicação da Plataforma?

Creio que a Plataforma é mais um espaço que se constrói  no sentido de viabilizar projetos de fortalecimento da proposta evangélica para a educação .  É claro que seu âmbito de atuação é, explicitamente, a educação superior. Essa restrição tem vantagens quando considerada no seu foco de atenção. Mas vejo como um importante iniciativa neste momento. Temos desafios comuns . Temos ideais muito similares. Temos uma cultura própria que pode ser um importante elemento na identificação dos melhores caminhos para deliberações coletivas. Adotando os princípios de condução que são características próprias do pensar evangélico, há muito espeço para se construir uma boa história a partir da Plataforma.

– Diferenças em questões doutrinárias, não interferem  a longo prazo na realização de acordos?

Creio que esta é uma questão precisa ser qualificada  com a devida logica.  Estamos falando de instituições educacionais evangélicas e não de igrejas evangélicas. Embora, por detrás de instituições haja sempre a influência, mesmo que indiretamente, de igrejas. As igrejas tem seu corpo próprio de doutrinas e de ensinamentos que são sua marca e sua razão de ser. E este é sempre um tema delicado quando se menciona a celebração de acordos.

Nossa história como ABIEE tem podido exemplificar um modo de atuação tal que não provocou, pelo menos até agora, e esperamos que assim continue, qualquer ruído ou mal estar no seio das confissões que mantém seus próprios sistemas educativos.

A razão para isso, atribuo, reside na origem da Associação, quando estabeleceu sua visão a respeito do tema.

Com efeito, a ABIEE adotou a posição de inteiro respeito e de não envolvimento a questões de natureza teológica e doutrinária de qualquer denominação ou confissão religiosa. Como Associação, ela transita nos amplos espaços em que há convergência e campos de cooperação . Este princípio ficou claramente estabelecido desde o início  das atividades da ABIEE e tem sido plenamente respeitado , o que, a meu juízo, é uma das fortalezas e razão do êxito nesta trajetória .

Ao reconhecer  que, este é o expresso desejo das confissões que representamos, temos recebido, de cada uma, o apoio e o respeito necessários para conduzir a agenda da Associação com a confiança necessária para avançarmos sem que sejamos interpelados ou questionados devido alguma ação realizada indevidamente e fora do âmbito da legitima atuação  conforme a proposta contida nos Estatutos da ABIEE.

Também vale assinalar que a ABIEE não apresenta qualquer alinhamento e/ou engajamento político-ideológico, por compreender que a missão de nossas instituições é conduzir os estudantes a buscarem identificação com os valores do Reino de Deus , os quais estão acima de qualquer doutrina ideológica , ou projeto de governo cujos fins e propósitos se encerram em si mesmo e são de domino temporal e terreno.

Esta independência confere à ABIEE a necessária legitimidade e autoridade para transitar em todos os espaços dos poderes constituídos independentemente de  partidos políticos e dos  governos  de plantão cuja presença e duração são, na maioria das vezes , temporais e transitórios.

 

 

 

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