A venda de indulgências lá e cá

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Lusmarina Campos Garcia-

CONIC/ALC-A Reforma Protestante tem em Martinho Lutero uma das suas expressões centrais. A venda das indulgências foi o assunto que motivou a escritura das 95 teses que foram afixadas à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg naquele 31 de outubro de 1517.
Lutero debatia-se à busca de um Deus justo e não podia aceitar uma prática que pusesse à venda o perdão e a salvação. A justificação, o perdão dos pecados e a salvação eram frutos exclusivos da graça de Deus, eram dados de forma gratuita a todas as pessoas, por meio da fé.
Esta foi a descoberta que libertou Lutero. Ele entendeu que a relação de Deus com as pessoas não passa por critérios econômicos, e os dons de Deus para o povo não são vendáveis; são gratuitos.
“Livres pela Graça: a salvação não está à venda, a criação não está à venda, os seres humanos não estão à venda”
A Federação Luterana Mundial escolheu o tema acima para as celebrações dos 500 anos da Reforma. Com este tema, a Federação atualiza os princípios reformadores ao colocar no centro das reflexões e dos debates, a realidade de um mundo dominado pelo mercado financeiro e econômico; um mundo no qual tudo é transformado em mercadoria.
Diante da agressividade do sistema neoliberal que, para implementar os seus interesses, derruba governos democraticamente eleitos, cria guerras, desconstrói o Estado Democrático de Direito e transforma em mercadoria todos os recursos naturais colocando-os no balcão dos negócios privatistas, a Federação Luterana Mundial afirma: não está à venda! A salvação, a criação e os seres humanos não estão à venda!
A Teologia da Prosperidade, que afirma que quanto mais a pessoa dá (dinheiro para a Igreja) mais é abençoada, é uma teologia capitalista que contraria a noção de gratuidade que se expressa tanto no texto bíblico como nos princípios fundamentais da Reforma.
O discurso da meritocracia também agride a noção de gratuidade. Tudo o que há neste mundo, nesta vida, provém da graça de Deus; nós não somos merecedores de nada, somos apenas acolhedores do amor que nos é dado de graça, de maneira livre. A meritocracia é um conceito desenvolvido para legitimar a desigualdade e a posição dos ganhadores, afirma o economista francês Piketty (PIKETTY, 2014:475).
Gratuidade é a lógica de Deus. E é nessa lógica que a Reforma nos desafia a viver. Afinal, somos livres pela Graça! E afirmamos que a salvação não está à venda, a criação não está à venda, os seres humanos não estão à venda.
Lusmarina Campos Garcia é pastora da
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
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