Virada Sustentável e o chamado ao Bem Viver!

Coletivo Húmus e FOSPA/

BRASIL-

Vivemos dias de incertezas e ataques a nossa democracia, aos direitos humanos, aos nossos territórios e ao direito da natureza. O Amapá é um local de importante destaque ambiental no Brasil e em toda Pan-Amazônia, dominado pelo bioma Amazônico, tem 70% de seu território convertido em áreas protegidas. São 5 Terras Indígenas, 31 Terras Quilombolas em processo e 40 regularizadas e 19 unidades de conservação, de proteção integral e uso sustentável.

Nos últimos anos, o estado passa da denominação de “área mais bem preservada” a “última fronteira do agronegócio” por pressão de investidores externos, que buscam mais longe a posse de novas terras baratas para a criação extensiva de gado e a monocultura de larga escala, ameaçando o modelo de desenvolvimento sustentável vivido pelos povos tradicionais da amazônia, já que o agronegócio avança afastado dos centros urbanos e seguindo a vicinais, onde encontram-se pessoas dos mais diferentes estilos de vida e que encontram na natureza seu modelo de ser.

A soja e o boi, que exauriram as terras do centro-oeste do Brasil. Sobem pelo sul do Pará e, hoje, alcançam o extremo norte da amazônia brasileira. Com eles vem o rastro já deixado no estado vizinho – o Pará – legado de destruição da biodiversidade, tanto de áreas privadas quanto públicas, e até mesmo de unidades de conservação, que não conseguiram frear o agronegócio na Amazônia.

Esta atividade econômica se apresenta tão danosa ao modelo de vida sustentável dos povos tradicionais da Amazônia por empregar o excessivo uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos, que alteram as propriedades do solo e causam desequilíbrios em corpos d’água e produzem alimentos com alto teor em substâncias químicas industriais. Colocando em risco a vida das pessoas, implicando na derrubada de florestas e perda de vida selvagem e, por alterar a estrutura original do solo, ocasionando em perda de fertilidade. Mas, principalmente, pela transitoriedade dessas atividades, que abandonam as terras não mais produtivas e que um dia foram ricas florestas. Sem nunca dar segurança aos trabalhadores da floresta e do cerrado.

Para quem vive nessa área de conflito de interesses e será diretamente afetado, no passado, presente e futuro, pela alteração da paisagem e perda das funções ecológicas, só resta a luta e resistência, na defesa de nossa ancestralidade e ao direito à vida que escolhemos e não à que nos é imposta. Mediante ao cenário nacional de retirada de direitos e o avanço das políticas de exploração dos recursos naturais. Neste sentido práticas sustentáveis e agroecológicas mostram que é possível viver sem um modelo de vida parasitário, de forma comunitária e colaborativa com todos os outros seres que compõem a grande Mãe Terra.

Com o lema “Resistir é Criar, Resistir é Transformar”, nós guardiãs e guardiões do Bem viver, ouvimos o Chamado da Floresta, para uma missão unificada de nossas vivências. É com essa união que Coletivo Húmus e FOSPA/Amapá está em permanente articulação pautando e fazendo luta e resistência em favor de nossa casa comum.

Viemos pautando uma agenda/processo de: Atividades, oficinas, rodas de conversa, atividades culturais, levantamento de dados, visitas em comunidades, sistematização de vivências e experiências, planejamentos e pesquisas. Para preparar, mobilizar, organizar, criar resistência, articular, denunciar e propor junto aos povos e comunidades tradicionais, os movimentos populares, pessoas, entidades, gestores, mulheres, jovens, universidade e pesquisadores uma caminhada/agenda comum em defesa da vida.

Neste sentido durante a Viradinha sustentável – oficina de composteira doméstica, realizada no dia 20 de Setembro de 2018 na universidade Federal do Amapá (UNIFAP), pautamos o Bem Viver como forma de resistência a defesa do direito da natureza, pois entendemos que as florestas, os territórios, os rios, a terra, tem o seu direito como seres vivos. É com esta unidade que o Coletivo Húmus, o Comitê FOSPA/Amapá, a REPAM, FMCJS, Cáritas/AP, Movimentos de Mulheres, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Amapá, vem mobilizando, fazendo formação, organizando a resistência, a defesa dos territórios, a defesa da vida.

O objetivo é fazer entender que o que é considerado lixo para uns, é vida, é reciclagem e reaproveitamento de matéria e energia para outros. A vivência colaborativa, realizada no dia 20 de setembro na UNIFAP, contou com a presença de pessoas da sociedade civil, da comunidade acadêmica e entidades diversas para a proposta atividade.

Às 17:00 horas, a Doula Ana Daniele, iniciou a oficina com danças circulares estabelecendo a primeira aproximação entre os participantes com cânticos e músicas, ressaltando a união entre a natureza e as pessoas. Em seguida, Domingos Gomes, agroecólogo que desenvolve seu trabalho há mais de uma década no espaço denominado “Mundo das Plantas”, localizado no distrito da Fazendinha, em Macapá, iniciou sua fala sobre os benefícios da compostagem e a geração de renda com produtos da compostagem e da horta orgânica, com demonstração do biofertilizante produzido e comercializado por ele, apresentando na prática que é possível produzir alimentos sem agrotóxicos e fertilizantes químicos.

Brenda Cunha, acadêmica da Universidade do Estado do Amapá e composteira, iniciou sua fala contando como começou a compostar, mostrando ao público a composteira, sua estrutura, fases e cuidados. Seguindo da parte prática, com o auxílio de furadeiras e facas, cada participante ganhou dois baldes para compor sua própria composteira, finalizando com telas para impedir a entrada de insetos indesejados na composteira.

A atividade terminou com a apresentação da grafitagem feita na lateral do Centro de Vivência (CV) da Universidade e com plantação de um Ipê amarelo na área, simbolizando a necessidade de práticas agroecológicas no Estado do Amapá, como um símbolo de resistência ao modelo de vida que as elites do agronegócio tentam incutir nos povos da Amazônia.

Coletivo Húmus e FOSPA/Amapá – Brasil

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