Leonardo Félix-
Em todo o trabalho que é realizado diariamente com esforço em busca de uma causa social, política, cultural e religiosa e com pouca remuneração (o que implica equipe pequena, ao mesmo tempo fundos escassos em caráter permanente para fazer todo o trabalho) há sempre um dado mais difícil de lidar. Este dado é dar-nos conta que, assim como o mesmo marco identitário (a gênese de nossas organizações) coloca desafios de mudança na cultura institucional e serve como um freio e estrutura de contenção, ao mesmo tempo há as ideias ou atividades, que por mais inovadoras que nos pareçam, não conseguem avançar, ou pelo menos não o fazem nos tempos desejados.
Isso faz parte do panorama da Agência em seus 25 anos de vida. A mesma representação plural e diversificada da gama de organizações ecumênicas e organizações baseadas na fé (OBF) que cresceu de umas poucas, originárias de 10 membros em seu conselho e 20 articulações estratégicas continentais e internacionais, hoje convergem em pensamentos e formas de agir e de levar a cabo diferentes ações de comunicação e ao mesmo tempo, com o mesmo horizonte de sentido, ir adiante.
Mesmo assim, como as diferentes organizações que compõem o consórcio da Agência de Latino-Americana e Caribenha de Comunicação estão cientes dessa dinâmica em grande parte – diferenças e tempos distintos da ação organizacional -, continuam apostando no crescimento conjunto de suas próprias debilidades. Isto foi dito na última Assembleia Continental, realizada em São Paulo (Brasil), em setembro de 2018: “… são as nossas fraquezas que assumimos como parte do processo realizado há mais de 25 anos por vários dos presentes aqui que, profeticamente, fundaram ALC Notícias, e no qual nós adicionamos hoje mais organizações, o que nos permite vislumbrar a força de nossa união e as lutas compartilhadas. A voz dos fracos e fracas é cuidado de Deus em sua criação e responsabilidade de Seu povo em cada dia, de nós, de nossas organizações.”
Desta forma, e com essa expressão não apenas de desejo mas consequente com os rumos das ações políticas determinadas nesses 25 anos, a ALC Notícias construiu um leque de representações continentais que continuam sendo nosso maior desafio e nosso tesouro ao mesmo tempo.
SINAIS QUE ANUNCIAM NOVAS TENSÕES E DESAFIOS
Como mencionamos anteriormente, a ALC Notícias teve sua última Assembleia Geral Continental em São Paulo, Brasil, de 28 a 30 de setembro de 2018, coincidindo com a massiva marcha realizada em várias partes do país contra o candidato Jair M. Bolsonaro ao grito de “Ele não”. Toda a Assembleia dedicou tempo para marchar e se unir como religiosos e religiosas ecumênicas no continente com suas próprias bandeiras e motes, enquanto realizou um seminário de reflexão sobre o avanço dos movimentos neo-evangélicos conduzido pela amiga e doutora Magali do Nascimento Cunha, contribuindo com a comunicação e com o estudo profundo das relações e motivações que movem esses novos grupos de fé e os movimentos de extrema direita na região.
ALC NOTÍCIAS, como uma agência de comunicação única no campo ecumênico não só no continente, mas em todo o mundo, pode e está em condições, pela vontade política das organizações membros que aderem a ela, tanto de disputar sentidos comunicacionais com os meios de comunicação de massa na região, como também de se colocar em uma disputa real da hegemonia comunicacional, fazendo uma agenda setting diferente do consumo massivo de informação que esses mesmos meios empreendem.
Outros e outras tornaram este sonho possível anteriormente e eu não quero deixar de mencionar meu antecessor Enrique Zerbin na direção da Agência, ombros de projeção sobre os quais ainda hoje – apesar de sua partida – continuo a me apoiar, para ver mais além o que vem pela frente. E particularmente desejo nomear e homenagear o trabalho de Claudia Florentín que há mais de 12 anos trabalha constantemente para além do tempo exigido como editora em espanhol primeiro e depois como editora geral. Sem o trabalho de Claudia Florentín esta Agência não seria muito do que é hoje.
Finalmente, parafraseando a grande poetiza e teóloga guatemalteca Julia Esquivel, há coisas que, para serem vistas, precisam ser acreditadas. Por isso, trabalhamos dia após dia com essa convicção, somando, projetando, imaginando o que só a fé nos permite ver.
O autor é pastor metodista e comunicador. Desde 2013 ele é diretor da ALC Noticias