Quaresma: o que temos feito do nosso testemunho cristão?

Estamos na Quaresma (26 de fevereiro a 9 de abril), tempo de reflexão sobre o sacrifício de Jesus, seu amor por nós, seus exemplos e ensinamentos práticos (Mt 5:41).

Época de repensar nossos modos de pensar, falar e agir.

De que maneira temos sido, no dia a dia, uma espécie de “cruz” na vida dos meus irmãos e irmãs? Até que ponto conseguimos ser realmente dispostos para caminhar ao lado daqueles e daquelas que sofrem dor e perseguição de todos os modos?

Será que nos comportamos mais como Simão de Cirene – que ajudou Jesus a carregar a cruz – ou como Pilatos, “lavando as mãos” para aquilo que podemos fazer, mas não queremos?

Essas são perguntas que podemos levá-las conosco durante todo esse tempo quaresmal. Pensar é o primeiro passo para que possamos questionar o que temos feito com o nosso testemunho cristão.

A seguir, compartilharemos textos de algumas igrejas-membro do CONIC sobre o assunto.

Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
Quaresma: tempo de praticar Diaconia!

Entre as festas cristãs, a Páscoa ocupa um lugar de destaque, mas precisamos nos preparar para celebrá-la convenientemente. Por isso, foi instituída a Quaresma, um tempo de quarenta dias para chegarmos dignamente à celebração da Páscoa. O número de quarenta dias tem um significado bíblico: quarenta são os dias do dilúvio, da permanência de Moisés no Monte Sinai, das tentações de Jesus. Guiados por esse tempo e pelas expressões de fé somos chamados e chamadas à prática diaconal.

Todos que receberam o amor e perdão de Deus são chamados para ser bênção para todos aqueles que estão à sua volta. A Bíblia nos revela a importância de ajudar o próximo. O poeta estadunidense Henry David Thoreau escreveu certa vez que: “uma pessoa é rica na medida do número de coisas de que ele é capaz de abrir mão.” Jesus Cristo disse: “Assim também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu.” Mateus 5.16.

O Jejum Diaconal é uma ação motivada pela fé em Jesus Cristo, em prol de uma causa especial. Uma iniciativa do Conselho de Diaconia do Sínodo Norte Catarinense que convida todos nós a agirmos com o coração. “O Senhor Deus diz: Mas agora voltem para mim com todo o coração, jejuando, chorando e se lamentando. Em sinal de arrependimento, não rasguem as roupas, mas sim o coração.” Joel 2.12.

O jejum Diaconal nos convida para que durante a quaresma deixemos de consumir algo que gostemos, como por exemplo, doces, bebidas, carnes, roupas, e ofertemos de coração o valor que seria gasto com esse consumo ao Instituto Luterano Campos Verdejantes. O ministério de Jesus começou com jejum e terminou com a doação da sua vida! A Quaresma é um caminho bíblico, pastoral, litúrgico e existencial para cada cristão e para a comunidade cristã em geral, praticar a Diaconia!


Igreja Católica Apostólica Romana
A Quaresma e o valor da Campanha da Fraternidade 2020

Iniciamos um tempo importante na vida eclesial que é a Quaresma, tempo de preparação à Páscoa do Senhor, de sua paixão, morte e ressurreição. Queremos vivenciar este período com práticas de obras boas como a esmola, a oração e o jejum. O Senhor Jesus pede-nos que as façamos com a maior humildade, sem os elogios humanos pelo fato de que a prática boa pode virar um espetáculo. Assim os discípulos dão testemunho não de si mesmos, mas da luz de Deus, concretizando a sua presença em meio ao seu povo. Fica claro o ponto que as pessoas devem honrar não os discípulos, mas Deus. Se o louvor já existe neste mundo, a recompensa do Pai se perde. Por isto nós devemos realizar as práticas da esmola, da oração e do jejum na moderação e na simplicidade. São atos de justiça e do amor de Deus.

O Papa Francisco na mensagem à quaresma deste ano fala-nos como tempo favorável, para podermos finalmente ouvir a voz do nosso Esposo, deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade. Assim quanto mais nos deixarmos envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua misericórdia gratuita por nós. Portanto não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele.

Iniciamos também a Campanha da Fraternidade que neste ano (2020) versa sobre a vida como dom e compromisso. O lema é: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). A Igreja no Brasil através da CNBB coloca um tema fundamental a respeito da vida que não pode ser violada, seja a humana, a vegetal e a animal. Nós não podemos ficar na indiferença diante de tantas pessoas que morrem de uma forma violenta, seja nas cidades, seja nos campos. A vida é dom de Deus, é compromisso. A vida é dada neste mundo e um dia na eternidade.

Será muito importante a meditação da CF pelo texto-base, a sua leitura para que as pessoas para que as pessoas possam ter uma noção do tema da Campanha da Fraternidade, levando-as às ações concretas. O texto-base coloca o objetivo geral que alude a conscientizar à luz da palavra de Deus em vista do sentido da vida como dom e compromisso, traduzindo-se em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, pela família, comunidade e sociedade é claro no planeta, a nossa casa comum. O texto está dividido em três partes, do ver, “viu”, julgar, “sentiu compaixão” e o agir, “cuidou dele” (Lc 10,33-34). Por isso mesmo a parábola do bom samaritano orienta a CF 2020 no sentido da vida que é dom de Deus, compromisso com a vida que levamos no dia a dia. Jesus ressaltou que o amor a Deus passa pelo amor ao próximo sem o qual nós não amamos de verdade a Deus. Jesus é o verdadeiro bom samaritano que se aproxima dos homens e das mulheres que sofrem por compaixão e restitui a dignidade perdida pelo pecado e pela morte. Jesus mesmo é o modelo dessa opção evangelizadora que nos introduz na vida com Deus e no coração do povo de Deus.

A Campanha da Fraternidade ensina-nos a termos o olhar de Cristo em relação aos necessitados para que todos tenham vida em abundância, assim como Ele no-lo concedeu pelo sacrifício da cruz e de sua ressurreição. A caridade ajuda-nos a viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. É pela caridade que se dá o empenho e a atuação política dos cristãos e das comunidades eclesiais missionárias. A caridade deve animar os leigos e as leigas na atividade política vivida como caridade social (DCE, n, 29). A caridade é o princípio das microrrelações e das macrorrelações em vista da ação transformadora na Igreja e no mundo (DGAE 2019-2023, n. 107; n.182).

Vivamos bem a quaresma em preparação à Páscoa do Senhor, na qual Ele venceu o pecado e a morte para ressurgir e caminhar conosco até o final da história. Vivamos bem este período também pela participação em grupos de famílias, na reflexão do tema da Campanha da Fraternidade, pela vida familiar, comunitária e social e no testemunho de vida seguindo o Senhor Jesus para passar de sua morte à ressurreição.

Igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia
Encíclica Patriarcal para a Quaresma de 2020

Em nome do auto existente, sempiterno, de necessária existência…
O Todo poderoso,


Ignatius Afrem II, Patriarca da Santa Sé de Antioquia e de todo o Oriente,
Sumo Pontífice da
IGREJA SÍRIAN ORTODOXA
Em todo o mundo.

Estendemos nossas bênçãos apostólicas, orações benévolas e saudações aos nossos irmãos, Sua Beatitude Mor Baselios Thomaz I, Católico da Índia, Suas Eminências os Metropolitas, nossos filhos espirituais, os reverendíssimos Cura-epíscopos, reverendos padres, monges, freiras, diáconos e diaconisas e a todo o abençoado povo Siríaco Ortodoxo em todo o mundo. Que a Divina Providência os cinja através da intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e São Pedro o chefe dos Apóstolos e todos os mártires e Santos, Amém.

“Para que todos sejam um…” (João 17: 21)

Amados em Cristo,

Oração de Jesus por aqueles que creram Ele

No Monte das Oliveiras, nosso Senhor Jesus Cristo orou ao Pai, na noite da sua paixão, pedindo por seus discípulos: “Para que todos sejam um” (João 17: 21). No seu diálogo íntimo trinitário, o Filho falou ao Pai mostrando sua submissão à vontade do Pai e seu perfeito amor à humanidade, cumprindo assim o que Ele ensinou aos seus discípulos: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (João 15: 13). Seguindo o mandamento do Senhor Jesus, todos serem um assim como Ele e o Pai são um (cf. João 17: 22), os apóstolos permaneceram unidos um aos outros, numa fé, como São Paulo, o apóstolo, escreve: “Há um só corpo e um Espírito… um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos”. (Efésios 4: 4-6)

Nas orações da Celebração da Transfiguração, cantamos um hino de São Jacó de Serug, o grande mestre da Igreja sobre a unidade da igreja que diz:

“O Pai ensinou (Pedro) através de uma tenda de Luz que Ele fez; que a Igreja é uma e um é o Filho adorado por ele, mas, uma tenda para o Único e não muitas igrejas, mas, uma Igreja para o Filho de Deus.”

Em verdade estas palavras sábias que pronunciam a unidade da Igreja através dos acontecimentos da Transfiguração do Senhor, afirmam que a Igreja sempre buscou a unidade que eles viram ser vital para a vida da Igreja.

Nas suas palavras na primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo alertou os fiéis com relação às divisões: “Eu lhes disse, peço irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo: mantenham-se de acordo uns com os outros, para que não haja divisões. Sejam estritamente unidos no mesmo modo de pensar e no mesmo objetivo”. (I Coríntios 1: 10). Um pensamento e um objetivo são o resultado do trabalho do Espírito Santo nos indivíduos assim como nas comunidades, através dos seus dons que dos muitos, um só. Isto é semelhante ao que aconteceu com os apóstolos no dia do Pentecoste quando o Espírito Santo desceu sobre eles na forma de línguas de fogo. O Pentecoste uniu os apóstolos e discípulos: diferentemente do que ocorrera na Babilônia onde “o Senhor confundiu suas línguas e os espalhou sobre a face de toda a terra”. (Cf. Genesis 11: 5-9)

Unidade na Fé

O alvorecer da cristandade surgiu e se espalhou apesar das perseguições. De fato, o cristianismo se fortaleceu e enfrentou tormentos através da Graça de Deus que encheu of fiéis, encorajando-os e apoiando nas dificuldades especialmente quando a opressão se asseverava. Sua unidade na fé tornou a Igreja unida e seus filhos podem participar nos sacramentos como expressão do seu companheirismo e unidade espiritual no corpo único que é a Igreja.

Unidade em Jesus Cristo

A unidade da Igreja está arraigada no relacionamento sólido dos ministros e fiéis com Cristo e sua obediência plena aos Teus divinos mandamentos. Consequentemente a unidade da Igreja que é construída no relacionamento correto com o Senhor Jesus Cristo afasta as divisões dentre os fiéis fazendo surgir o grupamento (de pessoas).

Estas divisões se espalharam rapidamente no solo fértil dos novos ensinamentos ou ideologias contrárias aos ensinamentos do Evangelho e as instruções dos apóstolos e santos padres: “por esta razão os fiéis se alinhavam com Paulo ou Apolo”. (Cf. I Coríntios 1: 12)

A Cruz de Cristo é o Símbolo da União dos Fiéis

A Cruz de Cristo permanece como o símbolo mais forte da unidade porque os apóstolos discípulos e toda humanidade foram incluídos na mesma salvação que se completou na Cruz. Em sua carta aos coríntios, São Paulo destaca a importância da Cruz para a confirmação da união: “Será que Paulo foi crucificado em favor de vocês? Ou será que vocês foram batizados em nome de Paulo?” (I Coríntios 1: 13). A partir daí os cristãos entenderam que a Cruz do Senhor os unia no mesmo sacrifício, amor e única salvação”.

Apesar das injustiças, a única igreja universal cresceu mais forte na era apostólica porque povos de todas as nações aceitaram Cristo como seu salvador e estavam unidos na sua Cruz. “Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homens e mulheres, pois, todos vocês são um só em Jesus Cristo” (Gálatas 3: 28). O terceiro patriarca de Antioquia, Santo Inácio Teóforo (Mor Ignatius Nurono) foi capaz de unir as facções da Igreja em Antioquia, mais precisamente os judeus convertidos e os gentios crentes. Chamou-a de “católica” porque ela uniu todas as etnias sem discriminação e estava aberta a todos oferecendo a salvação a todos. Aprendemos assim a importância do ensinamento do Senhor: “e haverá um só rebanho e um só pastor”. (João 10: 16)

Divisões da Igreja

O testemunho do Evangelho de Cristo continuou a se espalhar no Velho Oriente. Logo, teólogos começaram a interpretar os temas divinos de formas diferentes e se dividiram sobre diversos itens doutrinais e políticos. Isto resultou no surgimento de conflitos usados pelo maldito para dividir a Igreja. Ensinamentos estranhos penetraram na Igreja na tentativa de afastar os fiéis da fé apostólica ortodoxa. A unidade da Igreja foi rompida e a Igreja praticamente se tornou “um reino dividido entre si” (Cf. Mateus 10: 21). Apesar das divisões na Igreja, a Graça de Deus preservou a Igreja, apesar de um grande cisma passar a existir entre os cristãos resultando numa luta entre eles.

Fundamentos da Unidade

A unidade da Igreja pode ser considerada garantida. Mas, é difícil preservar entre os fiéis e restaura-la uma vez que as divisões se arraigaram. Através da humildade e amor que nos unem em Cristo, podemos trabalhar juntos para remover as disputas e conflitos. Assim elevamos nossos corações juntos ao Senhor em um espírito. Consequentemente os fiéis se tornam verdadeiramente “o corpo de Cristo e individualmente membros dEle”. (Cf. I Coríntios 12: 4).

O amor que emana da fé do Senhor Jesus Cristo inspira nos povos o desejo de fazer sacrifícios pelos outros. Pois: “se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica como simples grão, mas, se morre, produz muitos frutos” (João 12: 24). Do mesmo modo quando o fiel sacrifica em prol da unidade da Igreja e enterra no solo espiritual “toda maldade, orgulho, egoísmo… eles gozarão os frutos do Espírito que são amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência e fé” (Gálatas 5: 32). Isto manterá a unidade da Igreja intacta e fará surgir os frutos da santidade nas futuras gerações.

Trabalhando pela Unidade da Igreja

Desde as primeiras divisões na Igreja e apesar das perseguições que se seguiram afetando nossa Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia; nossa Igreja não desperdiçou nenhum esforço para convocar e trabalhar pela união dos cristãos. Em verdade o Patriarca Mor Severios o Grande, viajou a Constantinopla para discutir o tema da união dos cristãos. O grande sábio, Mor Gregorios Bar Hebraeus, Católico do Leste, escreveu sobre os Cismas na Igreja descrevendo-os como um “conflito de terminologia” convidando todos os cristãos a se unir.

Nas décadas recentes nossa Igreja superou velhas feridas históricas e se abriu para as outras igrejas irmãs colaborando de várias maneiras especialmente no domínio do ministério pastoral. Mitigar a unidade entre as Igrejas Siríacas que partilham a mesma língua e tem uma herança cultural comum continua sendo prioridade para nós. Continuaremos a trabalhar juntos para alcançar o cumprimento da unidade afim de recuperar a unidade da fé e testemunho, como era nos primeiros séculos da cristandade.

Agradecemos a Deus pelo fato de a Igreja gozar da unidade apesar de imperfeita. Está unida em oração pela paz no mundo e a serviço de toda humanidade. Através desta união os fiéis de todas as igrejas, Oriente e Ocidente, oram pelos dois arcebispos sequestrados de Alepo, Boulos Yazigi e Mor Gregorios Youhanon Ibrahim desde o primeiro momento do seu sequestro. Esperamos o seu retorno seguro às dioceses. Nesta Santa Quaresma oferecemos nossas orações por eles e apelamos mais uma vez a todos os poderosos que decidem a olvidar esforços pelo retorno seguro deles.

Amados em Cristo,

No início desta Quaresma, enquanto meditamos sobre a unidade da Igreja que é o Corpo de Cristo, convidamos todos unidos a caminhar em espírito através do verdadeiro arrependimento e orações fervorosas, através da leitura da Bíblia e da caridade, através do ministério e testemunho de Cristo. Convidamos também, todos a orar pela unidade da nossa Santa Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia; a união é a fonte da nossa força e sinal de obediência a Deus. Vamos superar os percalços que buscam enfraquecer a Igreja, derrubando os obstáculos que surgem à nossa frente através do trabalho do maligno que busca nos dividir. Ao mesmo tempo oremos pela união de todas as Igrejas Cristãs.

O Senhor aceite o vosso jejum, arrependimento, oração e caridade. Possa Ele nos tornar dignos de rejubilar na Festa da Ressurreição através da intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus, São Pedro chefe dos apóstolos e todos os mártires e santos.

Deus vos abençoe.

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