45 anos de Comissão Pastoral da Terra

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) nasceu em junho de 1975, durante o Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia, convocado pela @CNBB – Conferência dos Bispos, realizado em Goiânia (GO). Foi fundada em plena ditadura militar, como resposta à grave situação vivida pelos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições análogas ao trabalho escravo e expulsos das terras que ocupavam.


Os assim chamados posseiros da Amazônia foram os primeiros a receber atenção da CPT. Rapidamente, porém, sua ação se estendeu a todo o Brasil, pois os trabalhadores e trabalhadoras da terra, os camponeses em suas mais diversas categorias, onde quer que estivessem, enfrentavam sérios problemas.


Ela se destacou pela defesa do direito dos trabalhadores à terra, sobretudo posseiros e sem-terra. Só que a democratização do acesso à terra passa pela quebra do latifúndio, por isso, se envolveu diretamente com as diversas lutas e manifestações em favor da Reforma Agrária.
Em cada região, o trabalho da CPT adquiriu uma tonalidade diferente, de acordo com os desafios que a realidade local apresentava.

“Nasceu você um pouco maldita,
quase clandestinamente,
filha da paixão pelos pobres da Terra.
filha do Reino dos Céus que é Reino da Terra também.
Mal vista em casa, odiada fora.
Pastoral da água de Batismo
ou do azeite da Crisma
ou do Trigo e do Vinho da Ceia,
a Igreja as vive tradicionalmente.
Mas Pastoral da Terra?
Como se a água e o azeite e o trigo e o vinho não fossem leite e sangue e ternura e pranto da Terra Mãe…
Você é a Pastoral matriz
do pão nosso de cada dia,
da economia histórica da salvação,
depois que o Verbo se faz carne
na terra do ventre de Maria.
Fora, odiada:
pelo latifúndio e suas UDRs,
pela ditadura militar e seus carrascos,
por todas as arcaicas oligarquias e coronelatos prepotentes e pelo novíssimo devastador neoliberalismo – latifúndio do mercado, ditadura econômica, oligarquia de exclusão.
Pastoral fecunda, você já semeou muita semente agitadora nas mitras sonolentas de alguns bispos.
E já fez nascer ou renascer
muitos sindicatos de trabalhadores rurais.
E propiciou utopia e surco
para muita juventude.
E suscitou no país e na Pátria Grande toda e além mar muita consciência e muita solidariedade.
Irmã gêmea do CIMI,
irmã mais velha e mais curtida
de muitas outras pastorais específicas.
Mãe, filha, companheira
de muitos e muitos agentes de pastoral.
Ecumênica nem sempre compreendida.
Macroecumênica como a terra e a chuva e o sol do Deus da Vida.
Ara de tantos mártires – eles e elas,
que em você passaram pela grande tribulação e em você lavaram seus corpos e seus sonhos com o sangue do Cordeiro, bendita CPT, pastoral de fronteira, evangelho de risco, profecia pé no chão e enxada na mão e cantiga na boca dos Novos Céus e da Nova Terra!”.

(Pedro Casaldáliga – agosto de 1995)

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