O ardente presságio das queimadas ainda ameça a terra indígena Xavante de Areõe

CESE-Em 2019, o Brasil registrou quase 200 mil focos de incêndio, entre janeiro e dezembro, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe. Nesse cenário, Mato Grosso apareceu no topo da lista, com mais de 31 mil focos de calor no período, seguido pelos estados do Pará, Maranhão e Tocantins. Os números representam um aumento de mais de 50% em relação ao ano anterior.

A análise dos dados por biomas mostra que o Cerrado é o segundo mais atingido, com cerca de 40% do total das queimadas. Se o olhar for para a categoria fundiária, as Terras Indígenas também aparecem se segundo lugar, totalizando cerca de 20% das ocorrências. Não por coincidência, as propriedades rurais são as campeãs de queimadas.

As Terras Indígenas Xavante foram as mais afetadas. A T.I. s teve mais de 400 focos de incêndio que destruíram praticamente todo o território de 219 mil hectares, onde vivem cerca de 1.500 famílias. A TI está localizada na região nordeste de Mato Grosso, a cerca de 800 quilômetros da capital do estado, Cuiabá, tendo o Cerrado como vegetação predominante.

Margeada por fazendas e próxima à BR158, entre os municípios de Água Boa e Nova Xavantina, a T.I. fica totalmente exposta aos riscos dos incêndios florestais e das queimadas oriundas de áreas privadas. A dificuldade em identificar a origem exata do fogo agrava o problema, surgindo conflitos com moradores de áreas adjacentes. “O branco fala que os índios colocam fogo, mas quando a queimada acontece não dá para pegar as frutas, se alimentar, alimentar as crianças. Então falta muito do que nós comemos. Quando começam as queimadas fica como ‘vento branco’, começa a doença, contamina tudo”, desabafa Rute´Rewatsu, professora da Aldeia Xavante Babaçu.

Além dos prejuízos ambientais de fauna e flora, as queimadas destroem casas e edificações dentro das aldeais. Mas o dano mais grave relatado pelos Xavante é sobre a alimentação. “Ano passado nós perdemos tudo que nós plantamos: milho, arroz, mandioca. Perdemos tudo e ficamos sem ter o que comer”, afirma Tsibro´i´ocve Teredze, professor da Aldeia Nova Aliança.

A luta contra as queimadas: brigadas indígenas

Segundo Adzöule Walmir, também da Aldeia Babaçu, este ano eles querem atuar na prevenção, unindo todas as aldeias. Mas, para isso, precisam de apoio. “A Cese pode fazer um projeto para prevenção do fogo. Para a gente aprender como prevenir o fogo para não acontecer. A Fepoimt também deve ajudar trazer as equipes para trazer orientações aqui na aldeia, para que a gente possa entender como fazer esse trabalho”.

Dos 141 municípios de Mato Grosso, apenas 22 tem unidades do corpo de bombeiros. O pouco efetivo é insuficiente para atender as ocorrências urbanas e rurais – que requerem, inclusive, treinamento e equipamentos especiais para realizar o combate aos incêndios florestais e queimadas de maneira adequada e com segurança. Uma dessas soluções pode ser trazida por projetos pilotos desenvolvidos por organizações locais com apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE e da agência de cooperação internacional Heks/Eper.

Com o objetivo de atender essa expectativa, a Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso – Fepoimt, escreveu um projeto que tem dois objetivos principais: organizar oficinais de conscientização e prevenção das queimadas; e promover a formação de brigadas xavantes para o combate rápido, seguro e eficaz das queimadas.

Em 2019, Cese e Heks/Eper se uniram em uma ação de ajuda humanitária emergencial para apoiar povos indígenas, comunidades tradicionais e famílias camponesas afetadas pelos incêndios, por considerar as queimadas uma ameaça aos modos de vida dos povos que habitam esses territórios.

“Nós queremos a preservação do meio ambiente porque através da nossa natureza nós vivemos bem”, finaliza Anderson Siruia, Cacique Geral da TI Areões.

A Federação dos Povos e Organização Indígena de Mato Grosso – Fepoimt

Criada em 2017 para a defesa dos Direitos Indígenas e a luta por auto sustentabilidade, a Federação tem como objetivo promover a organização social, cultural, econômica, desenvolvimento sustentável e política dos povos e organizações indígenas de Mato Grosso, contribuindo para a promoção dos Direitos Humanos e o fortalecimento da autonomia.

A HEKS/EPER

Agência de Cooperação Internacional, com sede na cidade de Zurique, com escritório de representação no Brasil onde apoia projetos com ações e iniciativas que promovem o desenvolvimento de comunidades rurais e a transformação de conflitos com a promoção da cultura da paz.

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