Um Brasil sufocado e orientado para uma política de morte

CONIC/ALC-

Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado. (Tiago 4:17)

Iniciamos o ano de 2021 com muitas incertezas em relação ao cenário político, econômico e sanitário. As campanhas negacionistas em torno da pandemia da Covid-19, a falsa oposição entre fé e ciência, com a gradativa perda de empatia e de responsabilidade coletiva, visíveis na resistência ao uso correto de máscara e nas aglomerações contribuíram para que os índices diários de morte e infecção superassem os do início da pandemia.

As imagens de Manaus-AM angustiam toda e qualquer pessoa com a capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa. Imagens que poderão se repetir em outros estados se não frearmos nossos comportamentos negacionistas e egoístas. A compaixão é um dom de toda e qualquer pessoa, religiosa ou não, capaz de sentir a dor do outro.

A empatia é uma condição para o pensamento ético, tendo contribuição decisiva para o altruísmo e para a coesão social. Essa última é essencial para constituição de uma nação e de uma identidade nacional.

A ausência de empatia, no entanto, é perceptível não somente no comportamento individual. Ela também se revela nos direcionamentos políticos e econômicos do país. Em função de uma política e economia não empáticas, orientadas única e exclusivamente para o lucro de alguns, o Brasil vive, talvez, o momento mais difícil de sua história recente. As decisões tomadas na política brasileira estão destruindo o país como nação. A Emenda Constitucional 95 – Lei do Teto de Gastos – é um exemplo das causas que potencializam os impactos causados pela pandemia, porque reduziu o investimento na saúde pública. Outras opções políticas equivocadas que precisam ser lembradas são: a interrupção do Programa Mais Médicos, por razões ideológicas, e a expulsão de médicos e médicas cubanas que atendiam nas regiões mais carentes do país. A não valorização dos e das profissionais de saúde também é causa da realidade visível nas mais de 200 mil mortes que poderiam ter sido evitadas. E, por fim, o desinvestimento em pesquisas.

A falta de oxigênio em Manaus, a estafa dos e das profissionais da saúde, a desesperança e o medo precisam cair na conta de todas as instituições, empresas, corporações que vislumbraram seus lucros em detrimento do bem-comum.

De fato, colocar o lucro na frente do direito à existência das pessoas parece ter funcionado. Vejamos um exemplo: o lucro líquido das grandes empresas não financeiras da bolsa brasileira teve alta de 86,9% no terceiro trimestre, quando comparado com o mesmo período de 2019, chegando a R$ 20,856 bilhões.

No entanto, a economia real não se beneficiou disso, pois a taxa de desemprego, segundo dados do IBGE, chegou a 14,6%, com mais de 14 milhões de pessoas desempregadas. Além disso, mais de 600 mil micros e pequenas empresas foram à falência e 9 milhões de pessoas foram demitidas em função dos efeitos econômicos da pandemia. Por entraves burocráticos e demora na liberação de recursos menores do que os necessários, a ajuda às micro e pequenas empresas só chegou a 15% delas. Com o fim do Auxílio Emergencial, sob o argumento de que o “Brasil está quebrado”, uma parcela significativa da população fica abandonada por seu próprio país.

Estamos nas mãos de um governo orientado por política de morte. Os números mostram que o argumento utilizado para justificar a não realização de lockdown para conter a pandemia foi falacioso e é um dos principais indicativos da ausência de responsabilidade das pessoas que ocupam postos-chave no país: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Enquanto pessoas enterram seus familiares, amigos e amigas, assistimos o governo federal anunciando planejamentos inconsistentes para dar início à imunização da sociedade. O sufocamento das pessoas que lutam e lutaram por suas vidas não tem sido suficiente para que as autoridades responsáveis assumam o seu papel.

Cada anúncio inconsistente realizado na televisão e nas mídias sociais representa escárnio e desrespeito com a vida da população brasileira.

Que neste domingo, e ao longo do mês de janeiro, possamos orar por todas as famílias enlutadas.

Oremos pelos profissionais de saúde, pela comunidade científica, pelos pesquisadores e pesquisadoras.

Oremos também pelos movimentos sociais, ONGs, comunidades religiosas, lideranças comunitárias que, desde o início da pandemia, não cessaram seu esforço em concretizar ações solidárias que diminuíram o sofrimento das pessoas desempregadas e sem amparo.

Que ao longo deste mês, ainda peçamos a Deus piedade por todas as pessoas e lideranças religiosas, ou não, que de maneira irresponsável potencializam campanhas negacionistas e comportamentos egoístas.

Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)

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