Indígenas do Porto Esperidião denunciam crime ambiental em área de preservação permanente

Comunidade utilizava o rio para banho, consumo e irrigação das hortas.
Foto: arquivo pessoal/indígena Chiquitano

BRASIL-

No início deste 2021, indígenas do povo Chiquitano que vivem na aldeia Acorizal, na Terra Indígena (TI) Portal do Encantado, no município de Porto Esperidião (MT), notaram que as águas barrentas do rio Tarumã não foi o resultado das chuvas, mas do desmatamento ilegal da margem do rio e barragens nas cabeceiras. “Além da cor da água, a escassez já era evidente desde o ano passado, porém, a comunidade inicialmente acreditou que era por conta da estiagem, com pico no mês de julho”, denuncia o portal EESE.

A 20 quilómetros da aldeia, os seus habitantes do povoado de Chiquitano avisam que viram “a diferença muito antes, mas como não podemos ir à zona do promontório, para manter a nossa segurança, pois não seríamos bem-vindos, foi só em janeiro é que descobrimos as barragens e a degradação e tínhamos a certeza de que não era efeito da chuva ou da seca ”, explica o cacique.

O rio Tarumã tem 135 km de extensão e atravessa os territórios de Rondônia, Mato Grosso e Bolívia e apresenta diversos pontos de degradação. Segundo o chefe da Acorizal, José de Arruda Mendes, o rio já secou em alguns trechos localizados próximos à BR-265, nas comunidades Chiquitanas que ficam na Bolívia.

Nossa experiência depende dessa corrente. Matar tal rio é matar um povo. É uma perda e uma grande perda para nós”, lamenta José, que afirma que o rio Tarumã era a principal fonte de água das quatro aldeias da Terra Indígena. Além do uso para tomar banho, beber e regar jardins e pátios, o cacique e a professora mediram a importância do rio para os rituais da comunidade Chiquitana: “O riacho é tudo para a nossa comunidade. Tomamos banho à noite porque acreditamos que a água tira todo o mal do corpo e desce o riacho. Na Serra de Santa Bárbara, por onde passa, perfuramos a orelha e o nariz do rio. É da margem do rio que tiramos as plantas que servem para tratar algumas doenças. Temos vários rituais de extrema importância para o nosso povo”. Além disso, destaca a convivência entre jovens e adultos e a realização de atividades escolares e culturais no rio Tarumã.

Depois de perceber mudanças no nível do rio, na cor da água e encontrar sedimentos, os indígenas suspenderam o uso diário por medo de contaminação. “Não sabemos o que há no rio. Tarumã caiu muito baixo e os peixes também acabaram. Então veio a terra, o barro na água, e ficamos desconfiados. Hoje procuramos água em outra aldeia”, diz José, é fundamental destacar que a soberania alimentar da comunidade está comprometida, já que a água também era utilizada na produção de frutas e verduras que são cultivadas no local. Quando existia peixe, servia de alimento para o povo chiquitano.

O Cacique José e a comunidade Chiquitana lamentam a situação do Rio Tarumã e exigem justiça. “Esperamos que a justiça seja feita e que as pessoas paguem por crimes ambientais. Essa multa por si só é pouco para a destruição do rio Tarumã. Eles precisam reflorestar a costa, consertar as cabeceiras, explodir a barragem e deixar o rio seguir seu curso natural. É o mínimo que esperamos da Justiça. Nosso povo está muito triste porque nunca vimos um rio secar”, diz o cacique José, reafirmando que “a ocupação da terra é ancestral”.

Pode ler a nota completa no portal do CESE original.

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