Violência doméstica: por que domingo é o dia de maior risco para a mulher?

Ilustraçao: Paula Sífora

Camila Brandalise, De Universa-

Sentimento de posse sobre a companheira, exigência de submissão feminina por parte do homem e demonstração de poder são algumas das explicações que pesquisadoras apresentam ao falar sobre a alta incidência de casos de violência doméstica no país – o dado mais recente indica que uma agressão ocorre a cada dois minutos, ou 266 mil por ano. Mas, além do aspecto analítico há, no dia a dia, fatores de risco que podem deixar as vítimas ainda mais expostas a agressões. Um levantamento inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o dia da semana é um desses fatores.

Um levantamento inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o dia da semana é um desses fatores. Segundo o estudo, de todos os registros semanais, 22% se concentram nos domingos. O segundo dia da semana com mais casos é o sábado, com 17%, seguido pela segunda, com 14%. De terça à sexta, o número cai para 12%.

Os dados são referentes ao período de 2015 a 2019 e foram coletados em seis estados de diferentes regiões: Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pará, Rio Grande do Sul e São Paulo. Embora levantados antes da quarentena, indicam uma tendência que faz parte da rotina do brasileiro.

A explicação para a concentração de casos nos finais de semana se dá, principalmente, pelo maior tempo de convivência entre agressor e vítima dentro de casa. “Junto disso há um combo de fatores que envolvem consumo de álcool e algum tipo de estresse, seja porque o time perdeu, seja porque tem que voltar ao trabalho na segunda”, explica Samira Bueno, diretora executiva do FBSP.

“Mas nada disso é justificativa. O homem não bateu na companheira porque bebeu, mas porque é agressivo e encontrou algum momento específico para colocar a raiva para fora partindo para a agressão física.” A pesquisa do FBSP mostra ainda que 40% dos registros são feitos à noite, sem especificar a diferença entre os dias da semana.

Samira, do FBSP, levanta outro ponto importante em relação aos dados: no pico dos casos de agressões é quando há menos lugares abertos para mulheres procurarem ajuda. “Apenas 8% dos municípios brasileiros têm delegacias da mulher, o que já é um problema. E as que existem costumam funcionar de segunda a sexta-feira, em horário comercial”, diz. No estado de São Paulo, das 135 delegacias da mulher, dez são 24 horas, sendo que sete delas estão na capital. Das outras cidades, somente Campinas, Santos e Sorocaba contam com o serviço. “Quais alternativas estamos dando para essas mulheres serem acolhidas? Não há outros equipamentos que podem ficar à disposição. Um exemplo é a Casa da Mulher Brasileira, que não está preocupada só com registro policial, mas também em oferecer serviços de assistência psicológica e jurídica. É uma excelente política, mas foi descontinuada.”

Segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, há unidades da Casa da Mulher Brasileira em seis capitais. Em junho de 2020, o órgão prometeu a inauguração de mais 25 delas até 2021, mas nenhuma dessas foi aberta até agora. “Vejo essa omissão em relação à ajuda às vítimas como um ato de desprezo pelas vidas das mulheres.”

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