
Em webinário, antropóloga comenta pesquisa sobre a percepção da população brasileira sobre estupro e aborto previsto por lei.
Agência Patrícia Galvão-
“O estupro está na vida, no imaginário das meninas e mulheres do Brasil […]. Está na vida porque o patriarcado e suas ramificações racistas e de classe organizam as relações de afeto em casa, na sociedade”. Assim a antropóloga, professora e pesquisadora Debora Diniz refletiu sobre a estrutura de abuso sexual e violência de gênero, construída e garantida pela moral patriarcal e racista, durante o webinário Percepções da população brasileira sobre aborto pós-estupro. Realizado na última quarta-feira, dia 5, o evento integra a pesquisa de opinião Percepções sobre estupro e aborto previsto por lei, elaborada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva. Acesse a pesquisa completa aqui.
O levantamento nacional online foi realizado em 2020 e contou com a participação de 2 mil pessoas. No webinário, a diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, apresentou alguns dados selecionados da pesquisa, entre eles: 84% das entrevistadas e entrevistados concordam que o estupro é sempre culpa do estuprador, não importa o comportamento da mulher ou sua roupa. Para Debora Diniz, o estudo demonstra a realidade da vida das meninas e mulheres brasileiras. “É exatamente o que a ciência mostra. As pessoas sabem onde a mulher sofre violência, sabem qual é o perfil do agressor, é alguém conhecido das mulheres. As pessoas sabem que a lei — que agora está sob o governo de Bolsonaro, que tenta mudá-la — indica a responsabilidade de um estupro: é do estuprador”, avalia.
Sobre as ameaças aos direitos sexuais e reprodutivos no âmbito do legislativo, em especial ao direito ao aborto em caso de estupro, a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, ressaltou que, “entre 2019 e 2020, os projetos de lei sobre o tema cresceram 77% no Congresso Nacional. Dos projetos em tramitação atualmente na Câmara dos Deputados, 40 proíbem o aborto ou criam restrições”, apontou.
Para a antropóloga e fundadora da Anis — Instituto de Bioética e ativista dos direitos das mulheres, “o que o Congresso Nacional está fazendo é o espelho de uma forma de fazer política, não é o espelho do país, são duas coisas diferentes. O espelho do país mostrou a pesquisa — quase 100% das pessoas concordam com a interrupção da gestação resultante de crime sexual [ao se referir ao dado do estudo que mostra que 94% são favoráveis que, em casos como o da menina de 10 anos que foi estuprada e engravidou, a gestação possa ser interrompida]”. Debora prossegue: “então, por que, ao mesmo tempo em que a pesquisa mostra isso — e aqui a gente tem ciência —, o Congresso Nacional está caminhando com as leis de restrição ao aborto? Porque quem está ali representa uma forma retrógrada de fazer política, de acreditar que estes temas movem o fanatismo, movem uma ideia de representatividade, de reconhecimento da política”.
Assista na íntegra ao webinário