Igreja Episcopal Anglicana manifesta preocupação com a democracia no Brasil

Em nota divulgada nesta quarta-feira, 25 de agosto, bispos e bispas da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) manifestaram preocupação com a democracia brasileira. O documento chama atenção para um fato inusitado, mas não surpreendente: o apoio de cristãos e cristãs à ruptura institucional. “Acompanhamos, com preocupação, que algumas igrejas evangélicas que não participam da histórica caminhada do movimento ecumênico têm reforçado o coro daquelas pessoas que ameaçam o processo democrático e suas instituições, defendendo até mesmo a ruptura institucional de nossa democracia”, diz um dos trechos do documento.

 íntegra você confere a seguir: 

Carta da Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Em defesa da Democracia brasileira

 “Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança.” (1 Pedro 3.11) A Câmara Episcopal tem acompanhado a situação política, econômica, social e religiosa em nosso país. Entendemos que nosso ministério pastoral, exercido em cada diocese, com cada pessoa e cada comunidade, também tem o dever de estimular a IEAB e contribuir com a Igreja de Cristo e com toda a sociedade brasileira nesta situação. 

Aproximamo-nos tristemente de 600.000 vidas perdidas em pouco mais de um ano e meio, tendo como triste protagonista o negacionismo governamental, e agora ficando evidente as inúmeras irregularidades que envolveram o protelamento de compra de vacinas e outros insumos enquanto se defendiam interesses particulares. A mesma gestão política que distribuiu um insuficiente “auxílio emergencial”, e que elevou o custo de vida de forma descontrolada, jogou, segundo o IBGE, 41% das pessoas brasileiras na insegurança alimentar (sem saber se terão o que comer no dia seguinte). 

Finalmente, e não menos grave, tem produzido violentos e sistemáticos ataques às instituições democráticas, especialmente ao Supremo Tribunal Federal, além de questionar, sem base concreta, a legitimidade dos processos eleitorais em si mesmos (atacando também o Tribunal Superior Eleitoral) e outras instituições.

A democracia brasileira, especialmente após o longo período da ditadura militar, entre 1964 e 1985, e da Constituição de 1988, tem tido problemas, como toda democracia. Tais problemas refletem a profunda desigualdade social e econômica que, lamentavelmente, destaca o Brasil entre os países com maior concentração de renda no mundo.

No entanto, entendemos que não existe outra forma melhor de resolver esses problemas do que o processo democrático, em especial se pensarmos no respeito às garantias de vida e na dignidade humana e ambiental. Esse processo deverá sempre ser aprimorado, nunca suprimido. É aqui que a advertência da Primeira Carta de Pedro deve nos animar: nos afastarmos do mal, fazer o bem e buscarmos a paz com perseverança.

Acompanhamos, com preocupação, que algumas igrejas evangélicas que não participam da histórica caminhada do movimento ecumênico têm reforçado o coro daquelas pessoas que ameaçam o processo democrático e suas instituições, defendendo até mesmo a ruptura institucional de nossa democracia.

Embora respeitemos o direito de manifestação e expressão da fé em todas as suas formas, não podemos nos calar diante de tais ameaças ao estado democrático de direito. Reafirmamos aqui a defesa da democracia, da Constituição Federal de 1988 e dos processos nela previstos, tais como a iniciativa de plebiscitos populares em defesa do patrimônio público e das políticas públicas, os processos de investigação parlamentar e judicial e, de modo especial, as eleições livres e transparentes, realizadas por meio de processos que considerem a diversidade de gênero, etnia e classe social, da forma como são definidas pelos organismos constitucionais competentes.

Unimo-nos ao povo brasileiro neste Grito das Pessoas Excluídas, que ocorrerá no marco da comemoração da Independência do Brasil (no dia 07 de Setembro) e às suas reivindicações: participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda.

Unimos também nossas vozes ao salmista, dizendo: “O Senhor faz justiça e defende a causa das pessoas oprimidas” (Salmo 103.6).

Que Deus em Cristo abençoe nosso país e nos conduza no caminho da justiça e da paz.

Câmara Episcopal

Bispo Naudal Alves Gomes – Diocese Anglicana do Paraná – Primaz da IEAB
Bispo Maurício Andrade – Diocese Anglicana de Brasília
Bispo Francisco de Assis da Silva – Diocese Sul Ocidental
Bispo Humberto Maiztegui – Diocese Meridional
Bispo João Câncio Peixoto – Diocese Anglicana do Recife
Bispo Eduardo Coelho Grillo – Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Bispa Marinez Rosa dos Santos Bassotto – Diocese Anglicana da Amazônia
Bispa Meriglei Borges Silva Simim – Diocese Anglicana da Pelotas
Bispo Francisco Cézar Fernandes Alves – Diocese Anglicana de São Paulo
Bispo Clóvis Erly Rodrigues, Emérito
Bispo Almir dos Santos – Emérito
Bispo Celso Franco – Emérito
Bispo Jubal Pereira Neves – Emérito
Bispo Filadelfo de Oliveira – Emérito
Bispo Renato da Cruz Raatz – Emérito

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