CONIC celebra 40 anos de anúncio e profecia

No dia 8 de dezembro, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil celebrou seus 40 anos de história. São quatro décadas marcadas por anúncio, profecia e compromisso com a radicalidade evangélica – que desafia os poderosos e se coloca ao lado dos “pequeninos” (Cf.: Mateus 25:31-46).

Representações das Igrejas-Membro

A atividade foi realizada na capital federal, Brasília, e contou com a participação de representantes de todas as Igrejas-Membro do CONIC: pastora Camila Oliver, da Aliança de Batistas do Brasil; dom Joel Portella Amado, da Igreja Católica Apostólica Romana; bispa Marinez Bassotto, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil; pastor Odair Braun, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e pastor José Roberto, da Igreja Presbiteriana Unida.

Organizações da sociedade civil, movimentos de trabalhadores rurais, organismos ecumênicos, entidades religiosas e de povos tradicionais também enviaram representantes. 

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Imersão na Amazônia

Antes da celebração, os participantes participaram de um momento bastante significativo de imersão na realidade da Amazônia: eles assistiram um filme em 3D, chamado Amazônia Viva, promovido pela Iniciativa Inter-religiosa Pelas Florestas Tropicais – organização da qual o CONIC integra o Conselho Coordenador. 

Como foi a dinâmica? As pessoas chegavam para a celebração, mas, antes, viam o filme. Com nove minutos de duração, a produção utiliza filmagens em 360º graus para desvendar um dos lugares mais importantes do planeta e, assim, aproximar a Amazônia cada mais das pessoas. No filme, dirigido e roteirizado por Estevão Ciavatta, a cacica Raquel Tupinambá, liderança indígena da comunidade Surucuá, guia o expectador durante a viagem virtual.

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Homenagens

Idealizadores do CONIC, fundadores, bem como apoiadores ao longo desses anos foram lembrados. Um dos destaques foi a homenagem ao padre Gabriel Cipriani, que por muitos anos contribuiu significativamente para o fortalecimento do Conselho como secretário adjunto.

Homilia

A pregação da noite ficou a cargo do pastor Inácio Lemke, atual presidente do CONIC.

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Confira:

Voz que clama no deserto: Proclamai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.” (Cf.: Mt. 3. 1 – 12)
 
Queridas irmãs e irmãos de caminhada ecumênica,
 
Parceiras e parceiros de partilha de espiritualidade inter-religiosa.
 
40 anos de história, de referências, de lutas e, por que não dizer, de vitórias? 40 anos de caminhada conjunta de igrejas cristãs e de caminhada desafiadora entre religiões. Caminhada conjunta com movimentos, organizações que se tornaram nossas parceiras e de confiança. Ao longo dos anos tornaram-se parceiras na vibração, nas alegrias e também em momentos de choro e luto.
 
Ah, iniciam-se os Anos 80! Alguns analistas sociopolíticos se referiam aos anos 80, como a década perdida. Mas, no revés da História poderemos reconhecer e dizer quantas organizações e movimentos surgiram neste tempo. “Naqueles dias”.
 
Assim também inicia o texto do evangelho: “naqueles dias”, o evangelista Mateus quer nos levar para a história de João, o Batizador, que batizava no deserto. Estranho esta afirmação, pois no deserto não tem água. Mas, temos outras referências onde João batiza no Rio Jordão. Onde mais adiante ele também batiza inclusive Jesus, reconhecendo-o como o Filho de Deus.
 
João um pregador muito procurado pelas pessoas de toda Judéia e região, ele não cansa de anunciar aos que o procuram: “Convertei-vos: o Reinado dos céus aproximou-se”. Convertei-vos, aqui está o centro de toda mensagem de João anunciada lá no deserto e às margens do Rio Jordão. A mensagem que quero trazer também aqui hoje para nós, nesta celebração dos 40 anos do CONIC. Sim, sem dúvida precisamos novamente rever nossa caminhada, nosso jeito de ser e viver como cristãs, cristãos e como Conselho Nacional de Igrejas Cristãs.
 
Nosso novo Plano Estratégico apreciado hoje pela diretoria e conselho curador do CONIC foi elaborado em conjunto e com muito empenho por um coletivo de pessoas, igrejas e organizações parceiras.
 
No texto, o evangelista coloca João como aquele que clama para a necessidade de um novo pacto entre Javé (Deus) e seu povo. O velho pacto feito no deserto onde Deus anuncia a Moises, após 40 Anos de peregrinação: “vocês são o meu povo e eu serei o vosso Deus”, onde é firmado o povo judeu, os descendentes de Abraão e Sara como povo eleito, povo escolhido por Javé.
 
Contudo, agora no tempo de João parece que este pacto está esvaziado. Ser descendente de judeu, ou filhos de Abrão e Sara não garante mais ser chamado de “povo de Deus”. Moisés recebe as leis, os Mandamentos, após 40 anos de peregrinação pelo deserto. Eles saem da escravidão do Egito e ficam peregrinando pelo vazio do deserto. Onde fazem experiências adversas à vida que estavam acostumados sob o comando e jugo de Faraó. Deserto é tempo de aprender a lidar com insegurança, viver isolado, restrito ao mínimo de recursos possíveis para sobreviver. É tempo de aprender a confiar na promessa de Deus – nada vos faltará, confiem apenas; mas também, confiar na convivência das pessoas que vivem na mesma situação. É uma caminhada conjunta – caminhada comunitária, caminhada coletiva.
 
Mas agora no tempo de João, o Batizador, a situação é bem diferente. O povo da Judeia está dividido entre si. Dividido entre vários partidos, ou grupos – saduceus, zelotas, levitas, fariseus e tantos outros mais. Em outras palavras, o povo judeu está exausto, está cansado. O povo está cansado de esperar o cumprimento das promessas. As sucessivas derrotas políticas e militares criaram uma tremenda frustração no meio do povo. O fato de dizer, eu sou da linhagem de Abraão não significa grande coisa. O povo está tão dividido em grupos, partidos e seitas, que cada uma reivindica ser o verdadeiro “povo escolhido” – Mas tudo isso virou “nada”.
 
E aí vem João afirmando que até das pedras Javé pode fazer surgir filhos e filhas de Abraão.
 
Até o culto a Javé tinha virado negócio. Tudo tinha seu preço regulamentado no templo. Templo que deveria ser o lugar de adoração ao Deus único para todas as pessoas.
 
Tudo indica que no tempo de João, cada grupo se apropriou de uma parte da lei de Moisés e afirmavam que são os únicos certos, todos os outros estão errados. Em vez de se unirem como povo, cuidar novamente das causas comuns, conforme Deus os havia ensinado nos tempos de caminha no deserto, agora se odeiam e se combatem.
 
 Neste contexto aparece João, o Batizador, com sua santa maluquice.
 
João era filho de família da linhagem de sacerdotes. Que conhece os regulamentos e costumes do templo e das sinagogas. Contudo é uma pessoa ousada, que vive o que prega de acordo com o projeto de Javé.
 
Tem um estilo de vida bem simples, estilo dos antigos grandes profetas populares. E assim se tornou um mensageiro reconhecido com as palavras do profeta Isaías “voz que clama no deserto”. João também não ostenta luxo, nem na forma de se vestir, nem na forma de se alimentar. “usava um traje de pêlo de camelo e cinto de couro atado na cintura, alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre”. Para nós pode parecer um estilo de vida exótica, tanto as vestes, como os alimentos, mas eram coisas que se encontravam na natureza. Ele abriu mão de tudo que lhe daria conforto ou segurança se tivesse permanecido junto ao templo. Optou por uma vida bem simples. Vida bem diferente do que ostentavam os sacerdotes, fariseus, levitas que administram o templo e as sinagogas onde em princípio deveriam cuidar dos valores religiosos, ou seja, a relação entre o povo e Javé, bem como, cuidar dos valores do Estado, pois no templo também se cobrava toda sorte de impostos.
 
Já há muito tempo o povo de Judéia esperava por um profeta. O último era o profeta Malaquias, que viveu entre eles há 400 anos. No decorrer do tempo os sacerdotes e sumo sacerdotes do Templo tinham colocado controle bem rígido sobre a Palavra de Deus o texto da promessa, do pacto de Javé com seu povo escrito num livro que só eles tinham acesso e escrito numa língua difícil, que o povo comum não entendia. Só o sumo sacerdote tinha acesso ao livro. Sim, o livro ficava guardado num recinto do templo, onde somente o sumo sacerdote tinha acesso.
 
O povo judeu aguarda um rei que irá julgar com justiça, que irá cuidar novamente de toda gente e cuidar de maneira especial dos mais pobres. Que vai governar com autoridade, justiça e garantir alimento, terra e direito para todos com igualdade.
 
Sim, e agora surge lá na periferia, lá nas margens do Rio Jordão, na entrada da Terra Prometida, lá no rio Jordão surge um profeta, vestido exatamente como o antigo profeta Elias, o pai dos profetas populares. Esse profeta também anuncia com as palavras do profeta Isaías, igual aos profetas antigos, que anunciavam a justiça em favor dos mais pobres, da viúva, dos camponeses, dos órfãos, um projeto de vida em benefício dos últimos, dos mais humildes. Anuncia que irá chegar um novo rei que cuidará de toda a gente, que restabelecerá dignidade e respeito à Judéia. Com equidade julgará os pobres da terra e ferirá os ímpios com o sopro dos seus lábios. Era o projeto que todos esperam. E João o anuncia como tempo já presente entre nós já agora. Esta é a grande novidade no Evangelho de Mateus: “O Reino dos Céus está entre nós”. Não está mais por vir no futuro, mas está aqui, entre nós, entre os pecadores. Por isso mudem os vossos pensamentos. Não esperem que amanhã venha alguém trazer o Reino de Deus ainda está por vir. Mudem, arrependam-se. Os pecadores estão aqui para serem batizados nas águas do rio Jordão por João, o Batizador.
 
As águas do Rio Jordão, que outrora se abriram, seja no tempo de Josué, para deixar a Arca passar, ou no tempo de Elias, com seu manto que as águas se abriram e ele pode passar sem se molhar. Agora as águas não se abrem. Agora os pecadores são submersos nas águas para serem lavados dos seus pecados. Aqui João e Jesus tem o mesmo discurso. Arrependa-se, o Reino dos Céus está presente. O Reino está sendo anunciado e presente aqui no deserto e nas margens do Jordão, está sendo anunciado no meio de vós. Não fiquem olhando para Jerusalém, para a Capital. O Reino não vem da Capital, do templo, mas está acontecendo aqui na margem.
 
E chama os representantes do templo, os ricos de Jerusalém, de “bando de víboras”. E não pensem que vão se safar assim, sem mais e sem menos. Vocês precisam mostrar bons frutos e não fazer só de conta que estão se arrependendo.
 
O machado já está posto e toda árvore que não produzir bons frutos será derrubada e queimada. Assim também o ceifeiro já está com sua pá na mão para separar a boa semente do refugo. A boa semente será guardada no celeiro e o refugo será queimado.
 
Para nós, após os 40 anos, cabe a pergunta: para onde olhamos? Somos voz profética presente entre os/as preferidas de Deus. Ou optamos pelo silêncio e o consentimento com as vontades e ordens dos poderosos?
 
Como nós nos comportamos diante da violência que afeta a sociedade em nosso tempo? Principalmente a que ocorre na sociedade brasileira? Diante da destruição da boa criação que Deus confiou em nossas mãos, como co-criadores, o que temos feito?
 
Para continuarmos na caminhada comprometida conforme o pacto firmado entre Deus e o mundo, carecemos diariamente da Graça, do amor de Deus e da convivência respeitosa entre os diferentes seres que ele criou.

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