Declaração Multirreligiosa para a Nação Brasileira em Meio à Crise da COVID-19

BRASIL-

O Brasil está diante de uma das maiores crises sanitárias, econômicas e sociais de sua história, uma crise de proporções agudas. Mas não estamos sós. Compartilhamos este desafio com todas as pessoas em todos os cantos do planeta.

Na medida em que os casos de brasileiros e brasileiras contaminadas com o novo coronavírus seguem aumentando, também aumenta nossa percepção de que esta pandemia continuará conosco por mais tempo do que tínhamos imaginado. Mas ela vai passar. Com a ajuda de nossa fé, vamos recuperar nossas famílias, amigos, saúde e cidades. Também reconstruiremos nossas vidas, nossa economia e nosso planeta mais resiliente, solidário e sustentável.

Queremos pertencer a sociedades justas, com democracias fortes, sem desigualdades econômicas, sociais ou raciais.
Não deixaremos ninguém para trás.
Mas enquanto a ciência e a precaução não permitem flexibilizar, embora temos visto atitudes que contradizem o bom senso e as recomendações dos especialistas em saúde pública, as perdas e o luto têm se tornado mais frequentes e aparecem muitas perguntas incômodas a cada um de nós, indivíduos e sociedade.


Nossos templos continuam vazios e fechados. E muitos de nós se perguntam: onde está o sagrado e qual o lugar que ele deve ocupar nestes dias de pandemia e no futuro? O que podemos fazer como pessoas de fé para responder aos desafios, mas também às oportunidades diante de um vírus que nos atemoriza e nos impõe distanciamento e não poucas vezes o sentimento profundo da perda e da falta de controle?

Como pessoas de fé também somos movidos por uma esperança ativa e
construtiva. Temos visto o sagrado se apresentar diante de nós, como epifanias:

Na força da solidariedade do nosso povo que socorre com compaixão
pessoas que se encontram necessitadas.

No sacrifício vocacional dos profissionais de saúde que atendem seus
deveres com coragem e dedicação.

Na atitude responsável de gestores que compreendem a gravidade do
momento e nos conduzem a medidas difíceis e controversas.

Nas pessoas empreendedoras que colocam a vida e a saúde de seus
empregados antes de seus ganhos pessoais, e encontram formas de
promover filantropia em meio à crise econômica aguda em que nos
encontramos.

No compromisso de tantas de nossas lideranças religiosas que buscam
caminhos novos para continuar acompanhando espiritual e emocionalmente irmãos e irmãs de suas comunidades de fé.


Por tudo isso, nosso chamado comum é para que continuemos cultivando essa esperança, solidariedade e autocuidado, atendendo às recomendações dos especialistas de saúde que, por meio de pesquisas científicas, estão tentando encontrar as melhores respostas possíveis que se enfrente a pandemia do novo coronavírus.


Queremos afirmar com nossas vozes unidas que a vida vem sempre em primeiro lugar e não podemos deixar ninguém para trás, sem distinção de classe, raça/etnia, gênero, idade, lugar de moradia etc.

É hora de construirmos lares, comunidades e uma sociedade unida e plena de alegria e oportunidades para todos, que emanam do compromisso com a paz, a compaixão e o cuidado com o próximo, especialmente os mais vulneráveis, sem esquecer de valorizar a diversidade do nosso povo e fortalecer nossos vínculos de sustentabilidade com o ar e água limpos, com o cuidado pela terra, o clima e as nossas florestas.


Representamos religiões e espiritualidades distintas e estamos juntos para acolher a todos neste momento de vulnerabilidade, dor, desorientação e sofrimentos. Como líderes de fé, aguardaremos o momento em que a ciência indicar que poderemos estar juntos e seguros. Até lá seguiremos unidos e protegidos em nossos lares e em
nossos corações.

Conclamamos a sociedade brasileira a se mobilizar para construir um futuro melhor.

Vamos cuidar melhor de nós e de nosso planeta. Garantir que os mais pobres e vulneráveis sejam acolhidos primeiro. Superar o racismo e quaisquer outros tipos de discriminação e preconceito. Buscar caminhos de renovação da nossa democracia para que a dignidade humana não seja uma dívida do passado, mas uma garantia
do presente e do futuro que queremos construir para todos os brasileiros e brasileiras.

Assinam:
Nivia Dias
Aliança de Batistas do Brasil
Rev. Áureo Oliveira
Aliança Cristã Evangélica Brasileira
D. Joel Portella Amado
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Pra. Romi Bencke
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
Rabino Michel Schlesinger
Confederação Israelita do Brasil
Agbagigan Everaldo Duarte
Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-brasileira
Sheikh Mohamad Al Bukai
União Nacional Islâmica

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