Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha: a atuação da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras

Ana Luísa Machado de Castro, Generonumero-Parceria com o NEPEM/UFMG-

Hoje, 25 de julho, é Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. No Brasil, também comemoramos o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído pela Lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidente Dilma Rousseff.

Nas últimas quatro décadas, os movimentos de mulheres negras brasileiras têm se fortalecido, ampliado seu conteúdo político e diversificado estratégias de resistência e enfrentamento às opressões interseccionais históricas. As mulheres negras foram às ruas, participaram de Conferências e de Conselhos de Políticas Públicas, ocuparam espaços importantes na burocracia estatal, pressionaram as instituições nacionais e internacionais, compondo uma importante frente consistente antirracista e antissexista no Brasil.

Uma das principais organizações que têm protagonizado essas lutas é a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), fundada no ano 2000, a fim de articular as lutas interseccionais das mulheres negras, nacional e internacionalmente. Com representação em todas as regiões do país, a AMNB é uma rede central no âmbito dos movimentos antirracistas, em especial das mulheres negras, construindo a atual linha de frente da luta por igualdade racial no Brasil.

A AMNB surge da necessidade de construção de espaços autônomos para a formulação política de denúncias das desigualdades de gênero e raça articuladas. Desde sua fundação, tem colaborado para o fortalecimento das mulheres negras como sujeito coletivo e para a construção de novas interpretações relacionadas às disputas políticas na sociedade brasileira.

As movimentações da AMNB têm impulsionado gramáticas políticas de transformação social que podem ser consideradas potencialmente criativas em um sentido de aprofundamento democrático e de ampliação de direitos, a partir de uma perspectiva interseccional. Como exemplo, temos a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, realizada em 18 de novembro de 2015, em Brasília, com a participação de 50 mil mulheres negras.

A Marcha teve como objetivo central denunciar a falência do projeto civilizatório implementado pelo Estado brasileiro, valorizar as lutas históricas das mulheres negras e fornecer estratégias alternativas para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Já àquela época, a Marcha apontava para a proposta de construção de um novo pacto civilizatório, ancorado na utopia da construção de um mundo de todos(as) e para todos(as).

Nos últimos anos, nota-se também a construção de um calendário de lutas dos movimentos de mulheres negras, voltado para a celebração das resistências desses sujeitos políticos. O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, tem sido um momento importante, no qual as organizações se voltam para a realização de atividades que evidenciam as demandas e as lutas das mulheres negras da região.

No Brasil, o dia 25 de julho foi instituído como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, pela Lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, em homenagem a líder quilombola Tereza de Benguela, conhecida por comandar o Quilombo de Quariterê.

A partir de 2013, temos a consolidação do chamado Julho das Pretas, criado pelo Instituto Odara, que apresenta anualmente uma agenda conjunta e propositiva em torno de temas que envolvem a superação das desigualdades de gênero e raça, colocando as pautas das mulheres negras no centro do debate político.

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O Julho das Pretas já abordou temas como a autonomia financeira das mulheres negras, a participação e a representação política, o direito à comunicação e a representação midiática das mulheres negras, as estratégias construídas pelas negras jovens feministas para enfrentar o racismo, o machismo, a LGBTfobia e todas as formas de opressão. Além disso, o calendário mensal inclui diversas estratégias de incidência política, como atos públicos, debates e seminários e articulação de atividades, em parceria com os governos locais.

Temos, portanto, a consolidação da ação do Julho das Pretas no calendário nacional da AMNB e dos movimentos de mulheres negras. A celebração do mês tem ganhado relevância política para as lutas antirracistas do país, com a realização de eventos diversos, puxados pelas mais variadas instituições em todo o Brasil. Além disso, o Julho das Pretas é um dos exemplos de como os movimentos de mulheres negras brasileiras permanecem atuando em resposta aos desafios de uma conjuntura política cada vez mais letal para as comunidades negras e elaborando gramáticas políticas próprias de sobrevivência e combate às opressões.

Para 2024, o Julho das Pretas apresenta o tema Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver, em referência ao tema central da II Marcha das Mulheres Negras, prevista para 2025. O evento vem sendo construído a partir dessa lente reparatória, destacando também a necessidade de uma abordagem ampliada, que combine justiça econômica, social e ambiental.

Ao indicarem que pretendem marchar por Reparações e pelo Bem Viver, as mulheres negras têm demonstrado um aprofundamento analítico em relação ao momento político atual, delineando como os problemas da sociedade brasileira estão estruturalmente relacionados com o passado colonial e escravista.

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