Um enigma chamado “Marina Silva”

Magali Cunha

Desde a morte de Eduardo Campos, em 13 de agosto, e a catapultagem da assembleiana Mariana Silva à candidatura à Presidência da República pelo PSB, tem sido árdua tarefa para a editoria este blog acompanhar toda a cobertura e as análises decorrentes, especialmente por conta da forte onda que levou imediatamente a candidata ao topo das pesquisas de intenção de voto.

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O termo “enigma” se explica justamente pela polaridade entre o admirável apoio ao nome de Marina Silva expressos nas últimas pesquisas, que a levariam a uma vitória em provável segundo turno, e as questões polêmicas que têm envolvido a candidatura da ex-senadora nos últimos (apenas) 15 dias (já apresentadas nas últimas postagens – veja aqui http://midiareligiaopolitica.blogspot.com.br/2014/08/da-religiao-politica-economica-o-que.html). E no estudo da cobertura, fica nítido que as polêmicas não dizem respeito apenas às “intrigas da oposição”, como procuram defender alguns partidários. Já existentes nas crises internas do PSB com o nome da candidata, elas foram amplificadas em episódios como o lançamento do Plano de Governo de Marina Silva no último 29 de agosto, que sofreu, a partir daí, duas alterações em menos de 24 horas, celebradas por lideranças evangélicas como resultado de pressões do segmento; e ainda com o caso do jato envolvido no acidente que provocou a morte de Eduardo Campos, que toca em questões éticas caras à imagem de Marina Silva.

A seguir, destaques da semana de prós e contras da candidata evangélica Marina Silva:

Campanha de Marina Silva a apresenta como ‘governante viável’

“Marina Silva não é mais a terceira via, é a primeira”. A frase taxativa de um dos integrantes do comando da campanha do PSB ao Palácio do Planalto define a mudança de atitude que a candidata terá nos próximos 37 dias, até o primeiro turno das eleições presidenciais. Apontada por pesquisas eleitorais com chances de vencer a disputa para a sucessão da presidente Dilma Rousseff (PT), (veja aqui e aqui), Marina Silva vai calibrar o discurso e a articulação política e social de sua candidatura para se mostrar uma alternativa viável ao eleitor. A nova estratégia da ex-senadora é criar uma oratória mais firme e assertiva em que se apresente como quem tem condições de governar o país.

Para isso, a ex-senadora passa aenumerar em discursos públicos suas realizações como senadora (1995-2011) e ministra do Meio Ambiente (2003-2008) e continuará a fazer acenos ao mercado e também a setores que ainda têm certa resistência à sua candidatura, como é o caso do agronegócio. Marina tem se comprometido com o controle da inflação, a independência do Banco Central e as reformas tributária, política e administrativa, como garantias de governabilidade. A ideia de “nova política” e “alternativa à polarização entre PT e PSDB”, porém, não será abandonada pela candidata. O discurso virou o mantra do PSB e já é tratado como marca materializada.

Alguns pessebistas comparam a transição que Marina fará à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 2001 para 2002, quando foi eleito pela primeira vez ao Palácio do Planalto. Segundo eles, o petista passou de representante de um grupo restrito para uma pessoa com potencial para se tornar presidente.

O paralelo também é feito com a Marina de 2010, candidata à Presidência pelo PV que teve cerca de 20 milhões de votos, e a Marina de 2014, com oportunidade real de vitória. Há quatro anos, a ex-senadora era uma alternativa, um voto de protesto. Hoje, avaliam os membros da campanha, assumirá uma postura de governante.

A articulação política é o maior desafio da nova etapa da campanha. A formação dos palanques regionais no início do ano foi o foco de divergência entre Campos e Marina, que não concordava, por exemplo, com a aliança entre PSB e PSDB em São Paulo e PSB e PT no Rio de Janeiro. Os palanques mostrarão agora a força nacional de Marina e sua capacidade de agregar aliados. A mobilização, porém, depende do PSB, partido do qual a candidata é recém-filiada e não tem o controle das estruturas.

Para resolver o impasse, o candidato a vice de Marina, deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), foi escalado para fazer as pontes nos estados e pedir votos, inclusive, em palanques que a candidata se recusa a subir. Os cinco governadores e os 24 deputados federais do PSB serão convocados pelo comando do partido para se empenharem pessoalmente na campanha. Com boa atuação nas redes sociais e aceitação em fatias que representam as manifestações de junho, a mobilização social é dada como resolvida na campanha, que precisa apenas ser acompanhado de perto.

Fonte: Folha de S. Paulo

Candidata do PSB à Presidência é entrevistada ao vivo no Jornal Nacional

“Meu compromisso, e o compromisso de todos aqueles que querem a renovação da política, é com a verdade. E a verdade não virá apenas pelas mãos do partido e nem também apenas pela investigação da imprensa – e eu respeito o trabalho de vocês. Ela terá que ser aferida pela investigação da Polícia Federal. Isso não tem nada a ver com querer tangenciar ou se livrar do problema […]. O compromisso é com a verdade”, disse Marina Silva ao ser questionada, na quarta-feira 27 de agosto, em entrevista ao vivo ao Jornal Nacional. A resposta dizia respeito às suspeitas de ilegalidade no uso do jatinho com que ela, na condição de candidata a vice, e Eduardo Campos, presidenciável do PSB morto em acidente aéreo em 13 de agosto, se deslocavam pelo país para fazer campanha eleitoral. “Não tinha nenhuma informação quanto a qualquer ilegalidade referente à postura dos proprietários do avião. As informações que tínhamos eram exatamente aquelas referentes à forma legal de adquirir o provimento desse serviço”, acrescentou a candidata do PSB.

Foto: G1
Indagada se não teve interesse de questionar eventuais irregularidades na cessão do avião, ela disse ter a informação de que a aeronave era emprestada e que, até o final do prazo legal – no encerramento da campanha – seria feito o ressarcimento ao proprietário pelo comitê financeiro de Eduardo Campos.

A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva reforçou na entrevista sua promessa de que governará unindo o Brasil e tentar desmistificar que seja contrária aos transgênicos e intransigente. Sobre a incompatibilidade de suas posições políticas com as de Beto Albuquerque, candidato a vice pelo PSB-RS na sua chapa, Marina Silva afirmou que tem uma trajetória de “trabalhar com os diferentes” e que é “lenda” a versão de que é contra o plantio de transgênicos. Questionada sobre o fato de Albuquerque ter sido um dos principais articuladores no Congresso da aprovação da medida que permitiu o plantio da soja transgênica, a ex-ministra do Meio Ambiente afirmou: “Uma questão fundamental: nós somos diferentes. E a nova política sabe trabalhar na diversidade, na diferença. Agora, o fato de o Beto ter uma posição diferente da minha em relação a transgênicos é um aspecto. Há uma lenda de que eu sou contra os transgênicos, mas isso não é verdade. Sabe o que eu defendia quando era ministra do Meio Ambiente? Um modelo de coexistência: área de transgênico e área livre de transgênico. Infelizmente, no Congresso Nacional, não passou a proposta do modelo de coexistência”, declarou. Segundo afirmou a ex-senadora, ela e Albuquerque têm uma “visão diferente” em relação a temas como transgênicos e células-tronco, mas tiveram um trabalho conjunto no Congresso quando ele foi o relator da Lei de Gestão de Florestas Públicas. “[Ele] me ajudou a aprovar a Lei da Mata Atlântica e tantas outras medidas importantes para o meio ambiente”, disse.

A ex-senadora foi questionada sobre o fato de ter terminado a eleição de 2010 em terceiro lugar no Acre e como explicava essa desaprovação em seu estado de origem. Marina Silva disse que contrariou interesses políticos no estado e, deixando clara sua identidade religiosa, citou um texto da Bíblia: “É muito difícil ser profeta em sua própria terra”. E acrescentou: “Eu venho de uma trajetória política que desde os meus 17 anos eu tive que confrontar muitos interesses no meu estado do Acre, ao lado de Chico Mendes, ao lado de pessoas que se posicionaram ao lado da Justiça, da defesa dos índios, dos seringueiros, da ética na política. Isso fez com que eu tivesse que seguir uma trajetória que não era o caminho mais fácil”.

A jornalista Patrícia Poeta retrucou e perguntou se não seria como se os acrianos dissessem: “Quem não a conhece que vote na senhora”? Marina Silva respondeu: “Talvez você não conheça bem a minha trajetória. Acho que você tem certo desconhecimento do que significa ser senadora vindo da situação que eu vim. Não sou filha de político tradicional, não sou filha de nenhum empresário no meu estado. Até a minha eleição, para ser senador da República, era preciso ser filho de ex-governador, filho de alguém que tivesse, de preferência, um jornal, uma TV, uma rádio, para falar bem de si mesmo e falar mal daqueles que ficavam defendendo a Justiça. Não é culpa dos acrianos, é culpa das circunstâncias. Os acreanos foram muito generosos comigo”.

Marina voltou a criticar a polarização entre PT e PSDB, que governam o país há quase 20 anos, utilizando-a como um dos símbolos da velha política. O argumento de que o país precisa de união, aliás, tem sido cada vez mais recorrente em sua campanha. “Infelizmente a política tem sido motivo de apartação, de contenda, da luta do poder pelo poder”, disse. “Para mim, a política deve ser utilizada para unir as pessoas, para que mesmo com interesses diferentes a gente seja capaz de mediar os conflitos e fazer aquilo que é melhor para o povo brasileiro.” A candidata aproveitou para reafirmar que, se eleita, não buscará a reeleição. “Como presidente, quero que você me ajude a ser a primeira presidente que não vai buscar uma nova eleição, porque não quero ter um mandato que comprometa o futuro das próximas gerações”, afirmou, dirigindo-se aos telespectadores.

Marina Silva foi a quinta entrevistada pelo Jornal Nacional. Antes dela, foram entrevistados Pastor Everaldo, no último dia 19; Dilma Rousseff, que foi entrevistada no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, no dia 18; Aécio Neves, no dia 11; e Eduardo Campos no dia 12, véspera de sua morte, o que provocou com que o PSB tivesse duas oportunidades de entrevistas na bancada do jornal.

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