Para ativistas, Brasil precisa olhar para a ciência e focar em vacinação para conter avanço da Covid-19 no país

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O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga, aceitou convite do presidente Jair Bolsonaro para ser ministro da Saúde. A indicação de Queiroga foi confirmada pelo próprio Bolsonaro, em conversa com apoiadores na chegada ao Palácio da Alvorada. “[Ele] tem tudo, no meu entender, para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento em tudo que o Pazuello fez até hoje”, declarou Bolsonaro. Queiroga será o quarto a ocupar o cargo em 12 meses de pandemia. Antes de Pazuello, chefiaram a pasta os médicos Luiz Henrique Mandetta e, por 28 dias, Nelson Teich.

Antes mesmo de saber quem seria o novo ministro, ativistas disseram à Agência Aids suas sugestões a respeito de como o Brasil deve enfrentar a pandemia a partir de agora. Confira:

Rodrigo Pinheiro, Fórum de ONGs Aids de São Paulo: “Primeiramente, o Brasil deve priorizar a compra de vacinas. Quanto mais vacinas o governo brasileiro tiver disponíveis para negociar e comprar, será um grande avanço para a gente imunizar mais pessoas. A outra questão é que a Covid-19 mostrou que o Brasil deve investir em seu parque tecnológico de fabricação de medicamentos e vacinas. Deve ter grandes investimentos em relação a isso, inclusive na produção de insumos. Não podemos ficar refém de outros países em relação a isso. Temos que ter essa autonomia. E fazer o que o Ministério da Saúde tem deixado de fazer nessa pandemia: coordenar a nível nacional o enfrentamento dessa pandemia, com políticas públicas, principalmente na questão da prevenção da Covid, junto aos governos, ver a realidade de cada estado para elaborar políticas. Essas medidas deveriam ser as principais de um novo ministro que deve assumir. E colocar que a ciência está acima de qualquer outra questão.”

Jenice Pizão, Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Em primeiro lugar isso já está claro para todo mundo. Mudar ministro não fará a menor diferença no enfrentamento da pandemia. Porque não é a mudança do ministro, mas sim a mudança do olhar do governo federal para enfrentar a Covid. Outro fator importante é a escolha de um novo ministro que não seja negacionista, que defenda a ciência. Tem que ser um profissional da saúde, ou um profissional que entenda de administração e que seja envolvido com o SUS, que entenda como o SUS funciona. A gente tem que entender que esse vírus que está circulando, já está com suas variáveis. O sistema de saúde do Brasil está sobrecarregado em todo o país, então, também não adianta mudar paciente de um lugar para o outro. Não adianta também aumentar o número de UTIs, já que além de ser demorado, a gente não tem profissional de saúde para trabalhar nesses locais. Estamos com profissionais trabalhando exauridos. Além disso, precisamos de medicamentos para atender as pessoas que estão nas Unidades de Tratamento Intensivo. A gente tem que decretar um lockdown de verdade. Porque, se continuar aumentando os novos casos, não temos como cuidar dessas pessoas. Não tem estrutura. Para o lockdown, o governo precisa mudar a visão do enfrentamento. Estimular o uso de máscaras e vacinas. A gente tem que vacinar, no mínimo 80% da população e rápido. É vacinar os idosos sim, mas logo precisa chegar em outras faixas etárias e principalmente pessoas que tem comorbidades. Tenho esperança de que coisas melhores virão, vibro para que haja mudança no comportamento das pessoas.”

Beto de Jesus, direto da Aids Healthcare Foudation no Brasil: “É necessário ver a big picture do Brasil: risco de morrer de COVID-19 quase quatro vezes maior do que no resto do mundo em 2020; 11.483.370 casos confirmados; 278.229 mortes; média móvel de mortes nos últimos dias de 1.832 (novamente um recorde). Estamos num pesadelo, num verdadeiro colapso sanitário sob a pressão de milhões de pacientes gravemente enfermos, escassez de oxigênio, falta de vacinas; falta de leitos hospitalares… somado a isso tudo, trabalhadores(as) da saúde da linha de frente de enfrentamento à COVID-19 exaustos ou doentes e pipocando novos picos de infecção pais afora. O que tem que ser feito para o combate efetivo à pandemia? O que nos salvará dessa catástrofe? A resposta é simples: CRENÇA NA CIÊNCIA. Não se administra crises sanitárias sendo negacionista, não se contém a expansão da infecção falando mal de vacina, do uso de máscara e de isolamento social, não se coloca um general do exército, sem qualquer experiencia na área de saúde para ser Ministro de Saúde. As decisões sobre quem vacinar, incluindo onde e quando, devem ser informadas e dirigidas por epidemiologistas, imunologistas, especialistas em doenças infecciosas e equipes técnicas do Programa Nacional de Imunização, não por pessoas totalmente desqualificadas que obedecem às crenças de um presidente que não tem envergadura para administrar essa crise. É imperativo que os esforços de vacinação sejam acelerados e estrategicamente direcionados primeiro para as comunidades mais afetadas. Nossa única chance de superar e combater o perigo de novas variantes do SARS-CoV-2 é vacinar o maior número possível de pessoas no menor período possível. Portanto, além de desenvolver uma sólida campanha de vacinação, é urgente uma campanha de prevenção nacional unindo esforços nos 3 níveis de governança do SUS (Federal, Estadual e Municipal) comprometendo-se a incentivar, promover e fazer cumprir as medidas de controle da infecção baseadas em evidências cientificas. Juntos, esses esforços de prevenção, juntamente com orientações sobre diagnóstico, tratamento e vacinação, devem ser padronizados sob o comando de uma força-tarefa nacional, que dialogue com os governos estaduais e os municípios. Esse é o caminho!”

Dica de entrevista

Fórum de ONGs Aids de São Paulo

E-mail: forumongsp@forumaidssp.org.br

Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas

Contato: www.mncp.org.br/fale-conosco

Aids Healthcare Foundation

E-mail: ahfbrasil@aidshealth.org

Redação da Agência de Notícias da Aids

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