A visão de Wesleys sobre a educação continua viva e atual

Por Barbara Dunlap-Berg-
Traduzidoe adaptado por Amanda Santos, Notízias MU

Pregando sobre a educação das crianças, o fundador do Metodismo, John Wesley, começou com a conhecida passagem de Provérbios (22:6): “Ensina as crianças no caminho certo e, quando velhas, não se desviarão”. 

“Não é razoável supor,” Wesley perguntou, “que uma educação cristã não deveria ter outro fim senão ensiná-los a pensar, julgar e agir de acordo com as regras mais estritas do Cristianismo?

“Pelo menos alguém poderia supor”, ele acrescentou, “que em todas as escolas cristãs, ensiná-los a começar suas vidas no espírito do cristianismo – em tal abstinência, humildade, sobriedade e devoção como o cristianismo exige – não deveria ser apenas mais, mas cem vezes mais, considerado do que qualquer ou todas as outras coisas.

Essas primeiras lições de Wesley foram lembradas muitas vezes no mês passado quando 260 líderes e representantes escolares se reuniram no Reino Unido para a 10ª Conferência Internacional Conjunta da Associação Internacional de Escolas, Faculdades e Universidades Metodistas (IAMSCU) e Escolas Metodistas (Reino Unido). O encontro multicultural de 25 de abril a 1 de maio se concentrou em “Transformar vidas para moldar uma sociedade justa: educação superior baseada em valores” e incluiu educadores da África, Ásia-Pacífico, Europa, América Latina e América do Norte. A conferência foi realizada em três locais do Reino Unido: Londres, Bath/Bristol e Cambridge, e comemorou a fundação por Wesley da Escola Kingswood em Bath há 275 anos. 

Durante o culto de abertura, o Bispo Mande Muyombo, da República Democrática do Congo, exortou os participantes a promover a educação metodista para abordar questões contemporâneas. 

Pregando o Salmo 116:1-4, ele convidou os participantes “a considerar os perigos que nós, como comunidade global, enfrentamos agora”. Muyombo expressou angústia particular sobre os conflitos no Sudão e outras partes da África Ocidental, Ásia e Oriente Médio. “O que mais pesa no meu coração”, disse ele, “são os numerosos ataques na região do Grande Lago entre Ruanda e a República Democrática do Congo, minha casa. Somente este conflito matou mais de 6 milhões de pessoas e deslocou mais de 800.000, especialmente mulheres e crianças. As questões da migração global estão atualmente dividindo as nações do mundo, pois os migrantes são deixados em tristeza e angústia”.

Nossa herança wesleyana, disse Muyombo, “repetidamente nos lembra que o poder de Cristo e do Espírito Santo pode trabalhar através de nós, especialmente quando trabalhamos juntos para levantar os líderes de que precisamos em um momento como este. 

“Nesse contexto, pergunto: a educação metodista é relevante hoje? Está respondendo às necessidades acima mencionadas da comunidade global? Como o fundador do Metodismo percebia a educação? Para ele, a melhor educação era um processo vitalício guiado pelo Espírito Santo em direção à santidade pessoal e social, e era a melhor ferramenta possível para o evangelismo, para o treinamento na piedade e para a melhoria da sociedade”.

Reconhecendo que o mundo está mudando rapidamente, ele perguntou: “Como nós, educadores, estamos nos adaptando? Que tipo de orientação nossas escolas estão oferecendo às gerações mais jovens sobre como navegar pelas realidades que enfrentarão? Como estamos preparando-os para serem profetas e pacificadores em uma era de mídia viral?” 

Muyombo pediu para garantir “que nossa pedagogia seja baseada nas melhores características da educação Wesleyana: autodisciplina, compreensão e sabedoria, oferecendo um encontro transformador com Cristo, vivendo de acordo com nossas necessidades e não nossos desejos, e uma forte ética de trabalho combinado com um poderoso senso de serviço aos outros.

“Um futuro sustentável para toda a humanidade”, disse Muyombo, “depende de todas as nações da terra trabalharem juntas”. 

A bispa aposentada Rosemarie Wenner, de Nussloch, Alemanha, atua como secretária em Genebra no Conselho Metodista Mundial. Em sua apresentação, ela enfatizou o importante papel da IAMSCU.

“Vejo a educação de uma perspectiva de direitos humanos com base na convicção de que Deus criou os seres humanos à imagem dEle, para que todos vivam uma vida decente dentro dos limites do planeta”, disse Wenner. “É uma tarefa enorme criar acesso à educação para todas as crianças. Sempre que possível, defendo o direito à educação e destaco iniciativas, muitas vezes oferecidas por
congregações metodistas locais, para apoiar crianças excluídas de uma educação de qualidade.

“IAMSCU”, disse ela, “é uma expressão da ampla e viva conexão metodista. As pessoas engajadas na educação em vários níveis se encontram, ouvem umas às outras, exploram maneiras de responder aos desafios globais – com base em valores que refletem a tradição e a ética metodista. 

“Visitar o local onde a educação metodista começou e continua, ajuda a reorientar nossa herança comum”, acrescentou ela. “Muitos palestrantes de diversos contextos ofereceram perspectivas em seu trabalho. Isso foi mais do que pragmatismo, embora possamos aprender com os Wesleys que ações pragmáticas fazem diferença na vida das pessoas. Também ajudou a ouvir vários contextos para criar uma rede de apoio.”

Andrew Gordon-Brown, diretor da Escola Kingswood e diretor da Fundação Kingswood, fez um paralelo com as palavras de Wenner.

“IAMSCU precisa ser a cola que une as instituições educacionais metodistas globais”, disse ele, “agindo como um catalisador e facilitador para que escolas e universidades colaborem e trabalhem em solidariedade umas com as outras”.

A conferência, continuou, “foi uma maneira maravilhosa de nos reconectarmos com nossas raízes educacionais e de apreciar a grande obra do Espírito ao inspirar a criação de mais de 1.000 instituições em seis continentes hoje”.

Questionado sobre os maiores desafios da educação hoje e como a igreja deveria enfrentá-los, Gordon-Brown observou que, no Reino Unido, “a educação ocorre dentro de um contexto nacional agressivamente secular. As escolas da Igreja têm um papel a desempenhar no acolhimento de pessoas de todas as religiões e de nenhuma fé, e no incentivo ao encontro com Jesus Cristo como modelo de existência humana, independentemente da fé.

“O que passei a apreciar”, acrescentou, “é que a cultura que Wesley começou a criar em 1748, continua a existir ao longo dos séculos e ainda influencia o que tentamos fazer hoje. Claro, a Escola Kingswood no ano acadêmico de 2022-23, é um lugar muito diferente e não apenas porque não acordamos os internos às 4 da manhã para uma hora de oração antes da capela. A era da informação do século 21 é muito diferente da época pré-industrial do século 18.

“Wesley estabeleceu um padrão elevado quando se tratava de recrutar professores, insistindo que eles tinham aprendizado e sabedoria para orientar a formação dos alunos em mente, corpo e espírito. …Este continua sendo um ingrediente-chave em nossa missão de transformar vidas.”

Estudantes metodistas de todo o mundo  se juntaram em uma canção da Conferência, “The World Is My Parish” (“O Mundo é a Minha Paróquia”). 

Criado em 1991 por representantes de 20 instituições, o IAMSCU hoje conecta mais de 1.000 instituições de ensino em 80 países e cinco continentes. A visão da IAMSCU é apoiar uma rede mundial dinâmica envolvida em cooperação interinstitucional eficaz e envolvida em muitas formas de colaboração. Juntas, essas instituições estão formando uma nova geração de líderes cristãos inspirados nas tradições Wesleyana e Metodista.

Dunlap-Berg é uma escritora freelance em Carbondale, Illinois

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