Em 5 anos, Projeto coordenado pela Diaconia conclui 60 sistematizações no âmbito da gestão e disseminação do conhecimento sobre o algodão

Por Acsa Macena, Diaconia-

Descentralizar o conhecimento e proporcionar a autonomia para a agricultura familiar sobre as diferentes etapas que envolvem o cultivo do algodão em consórcios agroecológicos com certificação orgânica participativa. Esse é um dos importantes componentes trabalhados há 5 anos pelo Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, coordenado pela Diaconia, e em parceria com as organizações de base da agricultura familiar, assessoria técnica, setor acadêmico, organizações não-governamentais e outros.

O Projeto já alcançou mais de 1.400 famílias agricultoras nos 7 territórios – Alto Sertão Sergipano (SE), Alto Sertão Alagoano (AL), Serra da Capivara (PI), Sertão do Pajeú (PE), Sertão do Araripe (PE), Sertão do Cariri (PB), Sertão do Apodi (RN) – e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil.

Atualmente, apoia o funcionamento 7 Sistemas Participativos de Garantia (SPGs) que controlam a qualidade orgânica em Unidades Familiares Produtivas (UFPs) através dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs), conferindo o selo brasileiro orgânico nas produções agrícolas. São eles: ACOPASA-RN, ACOPASE-SE, Flor de Caraibeira-AL, ECOARARIPE-PE, ACEPAC-PB, ASAP-PE e APASPI-PI.

Durante esse período de caminhada do Projeto, uma das estratégias foi gerar conhecimento a partir da experimentação que pudesse promover um amplo material de orientação para as pessoas envolvidas com o algodão em consórcios agroecológicos e regras para certificação orgânica participativa. Segundo o coordenador do Projeto/Diaconia, Fábio Santiago, de forma inédita e ainda nunca visto, o material é composto por artigos, documentos e, sobretudo, vídeos que podem chegar com maior abrangência na disseminação do conhecimento para as famílias agricultoras. Tudo isso foi validado tanto no campo científico quanto na experimentação com os agricultores e agricultoras multiplicadores/as do conhecimento.

“Como ‘carro chefe’, temos o exemplo do Protocolo que denota o passo a passo para o cultivo do algodão consorciado e as boas práticas para a sustentabilidade no Semiárido, dialogando com a seleção de solo, plantio nas primeiras chuvas, espaçamento de plantas mais largos e uma planta por cova para maior produtividade e maior incidência solar, plano de adubação, diversidade plantas, monitoramento de insetos, época de colheita e procedimentos, vazio sanitário, armazenamento da rama de algodão, entre outras. Tudo isso dialogando com práticas que possam reduzir o efeito do bicudo do algodoeiro, lagarta rosada, entre outros insetos, e maiores produtividades associadas com outras culturas em regime de policultivo. Portanto, a maior entrega do acervo produzido pelo Projeto é que o conhecimento foi alargado para mais famílias agricultoras e as pessoas que puderem entrar no processo possam também ter um material de relevância para as suas principais dúvidas”, explica.

Ainda segundo Santiago, “o próximo passo foi a realização de um seminário regional com os 7 SPGs/OPACs para que os vídeos da geração de conhecimento possam ser assistidos com maior frequência nos 98 grupos locais de produção e 215 comunidades e assentamentos apoiados pelo Projeto. Assim sendo, pretende-se com isso maior debate e discussão sobre as dinâmicas do cultivo do algodão consorciado na região semiárida no Nordeste do Brasil”, afirma.

Nesse sentido, 60 documentos, entre e-books, artigos científicos, vídeos e outros foram produzidos com temáticas fundamentais para auxiliar as organizações de base da agricultura familiar. Entre as abordagens é possível destacar o protocolo de  boas práticas do algodão consorciado e regras para avaliação da conformidade orgânica à luz da legislação dos orgânicos; resultados de pesquisas em Unidades de Aprendizagem e Pesquisa Participativa (UAPs); o giro da certificação orgânica participativa; Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) para uso de tecnologias poupadoras de mão de obra; a relação do regime de precipitação e a condução dos roçados do algodão em consórcios agroecológicos; a qualidade do solo e estoque de carbono; justiça de gênero e agricultura familiar; o avanço da cadeia de valor do algodão e dos produtos dos consórcios; orientações sobre o pós-colheita de outras culturas alimentares; gestão dos SPGs/OPACs e outros.

O incentivo à sistematização de experiências sobre a agricultura familiar no Nordeste brasileiro é apoiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem projetos executados através do AKASAAM/IPPDS/UFV/FUNARBE.  Das 60 sistematizações realizadas pelo Projeto, 11 foram elaboradas a partir da parceria de Diaconia e o FIDA/AKSAAM/IPPDS/FUNARBE. 

O foco dos programas de Gestão do Conhecimento do FIDA está situado na identificação, sistematização e disseminação de experiências exitosas e melhores práticas associadas à convivência com o Semiárido do Nordeste. De acordo com o oficial de programas do FIDA no Brasil Hardi Vieira, o material tem uma dimensão e grande potencial para a cooperação Sul-Sul, podendo ser divulgado em outros países que trabalham com o tema do algodão, como Paraguai, Argentina e o Oeste da África.

“O FIDA acredita que todo material produzido pelo Projeto na parceria do AKSAAM foi de extrema importância, não só para dar maior visibilidade para o algodão agroecológico, mas também para fazer com que as boas práticas e a experiência pudessem ser acessadas por outras organizações e o público em geral, através de uma linguagem acessível, inclusive com a produção de vídeos. Isso gerou um impacto muito positivo”, afirma.

Ainda de acordo com Hardi, espera-se continuar apoiando a disseminação do material que também servirá de base para outras iniciativas do Nordeste. “Nesse momento, o FIDA está negociando com o governo federal através do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), uma nova fase onde essas experiências serão muito relevantes no desenho do Projeto, mas além disso, estamos agora na iminência de iniciar a execução em 4 estados do Nordeste numa nova colaboração do FIDA com o BNDES, numa captação do Fundo Verde do Clima. Essa iniciativa de resiliência climática vai utilizar toda experiência do algodão em consórcios agroecológicos para sua execução nos estados onde isso for pertinente. Então, acreditamos que esse material gerado na gestão do conhecimento em acordo com o AKSAAM servirá de base para o escalamento dessa iniciativa.

Já segundo o agricultor multiplicador Almiro Costa, ligado à Associação dos/das Produtores/as Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASPI) e residente na comunidade de Abelha Branca, município de Paulistana -PI, os documentos possibilitam o intercâmbio de experiências sobre as práticas das famílias agricultoras de uma região para a outra.

“Esses documentos fazem com que a gente tenha acesso às práticas e experiências de outros territórios, tornando também possível que as práticas do dia a dia das/os nossas/os agricultoras/es cheguem ao conhecimento de outros territórios do Semiárido. Como agricultor multiplicador, sempre procurei seguir ‘ao pé da letra’ o protocolo do algodão. Vimos que isso realmente garante a renda das famílias e que na mesma terra a gente tem uma diversidade de produtos, o que dificulta o ataque de pragas por causa dessa diversidade, além de gerar mais renda para nós”, explica.

Já para a agricultora multiplicadora Joana Darck, presidente da Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP-PE) e residente do Assentamento Jacu, município de Sertânia – PE, a série de documentos tem servido para promover a autonomia do conhecimento das famílias agricultoras.

“Mesmo na prática e com formações, às vezes esquecemos de alguns detalhes. E com esses documentos podemos olhar novamente e ver como pode ser feito. Isso dá mais autonomia ao agricultor e à agricultora, pois já sabemos onde buscar o conhecimento sem precisar estar ligando para alguém. Os pós-colheita já me serviram muito, principalmente o do gergelim que é uma cultura que não tínhamos o costume de plantar e foi o primeiro ano que eu consegui ter o lucro e me serviu bastante”, afirma.

Já segundo Jucier Jorge, assessor técnico da Diaconia no território do Sertão do Pajeú-PE, a disseminação do conhecimento foi fundamental não só para as famílias agricultoras, mas também para a assessoria técnica. “Os protocolos junto às formações nas Unidades de Aprendizagem e Pesquisa (UAPs) conseguiram descentralizar as informações. Assim, as famílias que fazem parte dos SPGs/OPACs tiveram acesso a todo esse passo a passo da produção em consórcios agroecológicos. Isso contribuiu tanto para as famílias quanto para a assessoria técnica, principalmente no conhecimento sobre alguns protocolos de pós-colheita de culturas que não eram tão comuns no território, como o amendoim, por exemplo”, afirma.

Acesse a biblioteca – Os materiais produzidos estão disponíveis na biblioteca exclusiva do site do Projeto Algodão (https://algodaoagroecologico.com/biblioteca-publicacoes/), organizada em seções temáticas para melhor direcionar a leitura e acesso aos documentos. Confira a tabela com o balanço que lista os 60 documentos produzidos ao longo desses 5 anos do Projeto: https://drive.google.com/file/d/1NNyCEnGdkt14H9rPGrJs4OtvoaGbUsYD/view?usp=sharing. O espaço virtual também reúne uma vasta bibliografia científica sobre o cultivo do algodão em consórcios agroecológicos.

Acesse o Youtube – Mais de 90 produções em audiovisual estão disponíveis no Youtube do Projeto sobre diversos temas e protocolos de pós-colheita do algodão e de culturas alimentares. Veja: https://www.youtube.com/@projetoalgodaoemconsorcios/videos

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada pela Diaconia e tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner. No incentivo à gestão e disseminação do conhecimento, o Projeto é parceiro estratégico do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e da Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). Ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/IBA/Governo do Paraguai, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar no Rio Grande do Norte. A área de atuação é em 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil. Há colaboração com ONGs locais (Instituto Palmas – Alto Sertão de Alagoas, ONG Chapada – Sertão do Araripe/PE­ e Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato – Sertão do Piauí) para a expansão do cultivo do algodão consorciado e fortalecimento dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) – Associações Rurais de Certificação Orgânica Participativa. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o assessoramento técnico está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó.  No Sertão do Pajeú (PE) e Sertão do Apodi (RN), a Diaconia mantém escritórios e atividades e se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.

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