Curitiba sedia Encontro sobre do Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo

Nos dias 17 e 18 de julho de 2024, o Instituto Salette em Curitiba foi palco de um importante evento para as igrejas-membro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). Coordenado pela Comissão Teológica do CONIC, o “Encontro Itinerários Dialógicos – Conversas sobre as Implicações do Documento ‘Ato do Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo entre Igrejas-Membros do CONIC‘” reuniu representações das igrejas-membro para discutir e refletir sobre os desafios e possibilidades do reconhecimento mútuo do batismo.

O documento em questão (clique aqui para ler), originalmente assinado em 15 de novembro de 2007 em São Paulo, visa promover a unidade e a cooperação entre as igrejas-membro, reconhecendo a validade dos batismos administrados por cada uma delas. Contudo, a baixa efetividade deste reconhecimento tem gerado frustrações.

Justificativa e Contexto

Em 2023, o CONIC recebeu relatos de dois casos que ilustram essas dificuldades. Casais de determinadas igrejas-membro não foram aceitos como padrinhos em batismos de outras igrejas-membro, causando descontentamento e questionamentos sobre a validade do ecumenismo promovido pelo CONIC. Diante disso, decidiu-se organizar um encontro para refletir sobre o Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo, seus limites e possibilidades, especialmente no contexto atual de crescente fundamentalismo e fragilidade do movimento ecumênico.

Resgate Histórico e Trabalho em Grupo

No encontro foi dedicado a um resgate histórico do Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo e suas implicações na vida comunitária. Foi destacado que, já em 1979, as igrejas Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Católica Apostólica Romana e Episcopal Anglicana do Brasil haviam firmado um documento semelhante. Além disso, o documento Batismo, Eucaristia e Ministério (BEM), elaborado em 1982 pelo Conselho Mundial de Igrejas, antecedeu e inspirou o Ato de 2007.

Os participantes foram divididos em grupos para trocar experiências sobre como o Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo contribuiu para o aprofundamento da vivência ecumênica e identificar situações em que o ato não foi plenamente considerado. As discussões revelaram que muitos conflitos ocorrem devido ao desconhecimento das teologias e doutrinas das outras igrejas.

Reflexões e Propostas

“Ao analisarmos os tensionamentos, percebemos que eles não estão relacionados à compreensão doutrinária do batismo, que é a mesma entre as igrejas-membro do CONIC, mas sim a regulamentações específicas de cada igreja”, explicou a pastora Romi Bencke, secretária-geral do CONIC. “É fundamental que o CONIC promova mais espaços de conversa e trocas sobre as histórias e compreensões doutrinárias de suas igrejas-membro”, acrescentou.

Durante o encontro, foi apresentada, lida e aprovada uma Carta Pastoral às igrejas-membro e suas comunidades. Decidiu-se que a carta e o documento do Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo devem ser amplamente divulgados, com o incentivo para a leitura e o estudo dentro das congregações.

Conclusão

O encontro destacou a importância do diálogo contínuo e da cooperação entre as igrejas-membro do CONIC para superar as dificuldades relacionadas ao reconhecimento mútuo do batismo. Através de discussões abertas e honestas, as igrejas podem fortalecer seus laços e promover a unidade na diversidade, oferecendo um testemunho comum de acolhida, paz e reconciliação para a sociedade brasileira.

Carta Pastoral sobre o Ato do Reconhecimento da Administração do Sacramento do Batismo entre as Igrejas-Membro do CONIC 

“Que graça e a paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo estejam com vocês” (2Cor 13,14).

Queridos irmãos e queridas irmãs da caminhada ecumênica.

Nos dias 17 e 18 de julho de 2024, no Instituto Salette, Curitiba representações das igrejas-membro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), coordenadas pela Comissão Teológica do CONIC, reuniram-se no “Encontro Itinerários Dialógicos – Conversas sobre as implicações do documento “ATO DO RECONHECIMENTO MÚTUO DA ADMINSTRAÇÃO DO SACRAMENTO DO BATISMO ENTRE IGREJAS-MEMBROS DO CONIC”, assinado no dia 15 de novembro de 2007, na cidade de São Paulo.

Os objetivos do Encontro foram: 

  • conversar sobre os limites e as dificuldades para a real vivência do documento Ato do Reconhecimento da Administração do Sacramento do Batismo; 
  • viabilizar partilhas de experiências em que o Ato do Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo contribuiu para o aprofundamento da vivência ecumênica e situações em que este documento não foi considerado plenamente;
  • identificar e refletir sobre aspectos do Ato do Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo que tensionam com a Doutrina Batismal das igrejas-membro do CONIC, apontando caminhos possíveis para superá-los;
  • elaborar estratégias para que o Ato de Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo contribua para o avanço do diálogo ecumênico nos âmbitos da missão, da diaconia e do mútuo reconhecimento eclesial.

Iniciamos o Encontro resgatando o documento em seus principais elementos e implicações, destacando quatro elementos comuns da Administração do Batismo nas Igrejas-membro do CONIC:

  • o Batismo é dom de Deus, realizado com água e em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo para a remissão dos pecados de acordo com a intensão e a ordem de Cristo, conforme Mt 28,18-20;
  • o Batismo incorpora-nos na Igreja, Corpo de Cristo, o que nos confere uma dignidade cristã comum;
  • reconhecemo-nos como irmãos e irmãs na Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica, portanto, somos permanentemente desafiados à reconciliação;
  • a compreensão comum do Batismo nos fortalece e nos envia para a missão, conforme Jo 10,10: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”;
  • o Batismo comum expressa a ecumenicidade do seguimento de Cristo e nos compromete a perseverarmos nos esforços pela unidade cristã. 

O Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo foi um passo importante para a superação de práticas de rebatismo que ocorriam no passado, por isso sua assinatura conferiu um sentimento de alegria por proporcionar algo fundamental: reconhecemo-nos como filhos e filhas do mesmo Pai, irmãos e irmãs em Cristo, vivendo no mesmo Espírito.

Ao nos perguntarmos porque persistem barreiras para a prática desta herança ecumênica, percebemos que: 

  • vivemos em um período histórico em que se sobressaem os fundamentalismos e as compreensões de igrejas autocentradas;
  • resistimos ao testemunho comum do Evangelho que nos torna “Um em Cristo Jesus” (Gl 3,28);
  • tendemos a compreender o Batismo como responsabilidade individual e não comunitária;
  • não incorporamos o documento Ato de Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo nas formações teológica e pastoral de nossas comunidades;
  • não conhecemos as gramáticas teológicas das igrejas que participam do movimento ecumênico;
  • o centro das nossas práticas pastorais ecumênicas enfatiza mais forma do que o conteúdo comum da fé cristã que nos irmana. 

Por isso,

  • pedimos às casas de formação teológica, aos grupos comunitários de estudo e de oração para que assumam a reflexão coletiva do Documento “Ato do Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento Batismo;
  • estimulamos a realização de seminários, rodas de conversa e outras iniciativas de estudo ecumênico deste documento, com vistas a superar as barreiras que impedem que nos reconheçamos mutuamente no Batismo;
  • propomos que no ano de 2025, quando celebraremos os 1700 anos do Concílio Ecumênico de Nicéia, demos real visibilidade em nossas igrejas ao Ato de Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento Batismo, com sinais concretos de nosso amadurecimento ecumênico;
  • sugerimos que no final de semana mais próximo ao dia 15 de novembro, data da assinatura deste documento, seja assumido pelas igrejas-membro do CONIC como um dia Celebrativo do Ato de Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo. Caberá ao CONIC propor material litúrgico para esta data;
  • estimulamos para que nos encontros ecumênicos dediquemos tempo e atenção para conhecer a história e as eclesiologias das igrejas membro do CONIC;
  • encorajemo-nos a pensar para além das nossas formulações doutrinais para que o centro de nossa prática de fé seja o Evangelho de Jesus Cristo.

Estes dois dias de oração e reflexão nos fortaleceram na fé comum e possibilitaram a compreensão de que ainda existem dificuldades em relação às implicações pastorais do Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo. Tais dificuldades não dizem respeito a divergências em relação à essência da fé batismal na Tradição Cristã, mas à diferentes compreensões doutrinárias e canônicas das igrejas. Apesar disso, entendemos que nossa unidade no Batismo comum é mais importante que nossas divisões. 

Recebemos de nossos irmãos e irmãs que nos antecederam na caminhada ecumênica um forte testemunho de fé comum. Cabe-nos, como herdeiros e herdeiras deste testemunho, nos esforçarmos para que o Batismo nos una na igualdade na diversidade, expressão da graça de Deus. Esta graça não nos uniformiza, mas faz das nossas especificidades riquezas comuns.  Compreendemos que o Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo é graça conferida por Deus para o enfrentamento de todas as formas de fundamentalismos e exclusivismos presentes em nosso tempo. 

Por tudo isso, recomendamos que a realização do Batismo seja antecedida por um diálogo com os pais, mães, padrinhos, madrinhas e testemunhas sobre o sentido profundo desse Sacramento e das suas implicações práticas para a vida, tanto na comunidade de fé, quanto na sociedade.

Que Deus, de amorosidade, revelado em Jesus Cristo e que se atualiza diariamente em nossas vidas e em nossas igrejas pela ação do Espírito Santo, nos encoraje e nos fortaleça para assumirmos nossa igualdade na diversidade pelo Batismo comum.

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