Em carta-exortação, CONIC reforça importância do distanciamento social

BRASIL-

A diretoria do CONIC redigiu uma carta-exortação em que defende, entre outras coisas, o isolamento social quando possível, o distanciamento social sempre que necessário, e o uso de máscaras.

“O racismo é mais cruel na pandemia. Diariamente, lemos as informações e ouvimos o clamor dos povos originários e povos tradicionais que perdem suas lideranças, seus mais velhos, seus jovens e suas crianças. Além do medo da pandemia, há o temor de um novo extermínio. Nos grandes centros urbanos, com seus bunkers que separam os ricos dos pobres, a pandemia, em silêncio nada amoroso, leva à óbito a população que vive em situação de rua”, denuncia um dos trechos do documento.

O documento também incentiva que as igrejas-membro continuem no esforço para incentivar “encontros virtuais o quanto for possível”.

No final, pede que “as autoridades dos poderes constituídos assumam a sua responsabilidade, pois certamente terão que responder pelas mortes resultantes da ineficácia das políticas desenvolvidas”.

Leia a íntegra:

Queridas irmãs e irmãos de fé que estão em comunhão ecumênica. Neste momento em que o Brasil alcança altas cifras de óbitos e contaminação por COVID-19, convidamos vocês para meditar em torno das palavras do Salmo 22:1,2. “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste? Apesar do meu rugir, minha salvação fica longe. De dia eu chamo, não respondes, meu Deus. De noite clamo, e não encontro repouso.”

Este Salmo, muitas vezes, é atribuído à Paixão de Cristo na cruz. Esta associação faz todo o sentido. Os Evangelhos nos contam que Jesus estava sozinho na hora de sua morte. Aparentemente, ele foi abandonado pelo Pai na hora da sua condenação. A multidão que havia acompanhando Jesus na entrada triunfal em Jerusalém, o abandonara. Todos sentiam medo de serem condenadas também. Jesus estava sozinho. Apenas um pequeno grupo de mulheres tiveram a coragem de olhar, à distância, a crueldade que fizeram com Jesus (Mc. 15.40-41).

Irmãs e irmãos, relacionando o clamor do salmista com o abandono de Jesus, nos perguntamos quantos de nós sentimos medo e abandono. “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste”? Este é o lamento de muitas pessoas.

Desde criança, ouvimos a máxima de que “Deus é brasileiro!” Sempre tivemos orgulho em dizer que vivemos em país abençoado e com povo muito gentil.

No entanto, nos últimos quatro meses, este encanto se transformou. Nos tornamos um povo assombrado, perdido e polarizado diante dos impactos causados pela pandemia da COVID-19. O recorde de mortes diárias nos assombra, assim como o sentimento de que não podemos fazer nada e, portanto, precisamos seguir a vida até onde ela nos levar. Em quatro meses, ultrapassamos a marca dos 100 mil óbitos. Muitas destas pessoas eram pessoas importantes e queridas para nós. Suas mortes deixam um vazio irreparável.

Em um país com profunda desigualdade estrutural, são as comunidades mais pobres as atingidas de forma mais violenta pelos impactos da pandemia. Nestas comunidades, desassistidas pelo Estado, é onde o vírus da COVID-19 alcança a maioria de suas vítimas.

O racismo é mais cruel na pandemia. Diariamente, lemos as informações e ouvimos o clamor dos povos originários e povos tradicionais que perdem suas lideranças, seus mais velhos, seus jovens e suas crianças. Além do medo da pandemia, há o temor de um novo extermínio. Nos grandes centros urbanos, com seus bunkers que separam os ricos dos pobres, a pandemia, em silêncio nada amoroso, leva à óbito a população que vive em situação de rua.

Impossível não falar do assombro diante da inércia e da indiferença do Presidente de República e seu cinismo. “E daí?”, é a pergunta da indiferença do capitão exonerado que divulga como solução medicamentos já considerados pela ciência como ineficazes para a doença da COVID-19. Mais motivos para assombros? Temos muitos, somando ao fato de sequer termos um Ministro de Saúde.

Irmãs e irmãos, diante de tanto abandono, sofrimento, dor, injustiça não podemos silenciar. Não podemos ficar paralisados ao ponto de nossa fé ser apenas de palavras (Tg. 2.19). A fé não nos autoriza a sermos coniventes com a indiferença. Não podemos nos acostumar com os números recordes diário de novos infectados e óbitos. Não podemos ficar parados diante da morte.

No atual momento, ratificamos a importância do isolamento social quando possível, do distanciamento social sempre que necessário, e do uso de máscaras, uma vez que ainda não temos nem a vacina, nem uma medicação comprovadamente eficaz para a doença. Assim, incentivamos que nossas igrejas continuem trabalhando nesse sentido, ou seja, incentivando encontros virtuais o quanto for possível.

Também esperamos que as autoridades dos poderes constituídos assumam a sua responsabilidade, pois certamente terão que responder pelas mortes resultantes da ineficácia das políticas desenvolvidas.

Só com coragem e ousadias proféticas podemos ser pessoas anunciadoras da vida plena “no” e “para” o Planeta (Jo. 10.10).

Amém!

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